NG200403013
isso, ainda em 1877, escrevia o autor de Memórias de um Soldado da Índia : «Lá [em Ceilão] se conserva profundamente impresso o cunho da dominação portuguesa. Ainda hoje a nossa língua é o idioma vernáculo das classes médias nas principais cidades. Uma cristandade numerosa atesta o lavor evangélico dos frades franciscanos. Nobres modeliares e pobres pescadores guardam com orgulho os nomes e apelidos que seus avós receberam na pia baptismal» 6 . Os autores de The Bible of Every Land (séc. XVII) já diziam que «O indo-português é mais ou menos entendido por todas as classes na ilha de Ceilão e por toda a costa da Índia; a sua extrema simplicidade de construção e facilidade de aquisição, tendo-o posto extensamente em uso como um meio de tráfico» 7 . S. Francisco Xavier escrevia, a este propósito: «Si de nosa Compañia vienen algunos estrangeros que não saben falar português, hé necesario que aprendan a falar, porque de outro jeto não habrá topaz [intérprete] que os entenda» (Romo, 166). O Apóstolo das Índias indica-nos ainda o tipo de livros, ou «manuais» que se deveriam ler nas escolas: «Ensinar a ler e escrever os filhos dos portuguezes, e ensina’los a rezar as oras de N. Senhora , os sete psalmos , e oras de finados polas almas de seus pais. Por lá, como V.M. sabe, tudo é ler por feitos, e os filhos dos portuguezes, lendo por feitos e mais feitos de Mallaca, ficam feitos malaquazes» 8 . Os próprios holandeses levavam sempre nos seus barcos intérpretes para a língua portuguesa. Na sua I Voyage de Siam, o 646 HERCULANO ALVES 6 Memórias de um Soldado da Índia , compiladas de um manuscrito português do Museu Britânico, por A. de S. S. C OSTA L OBO (Lisboa 1877) 101-102. 7 S AMUEL B AGSTER & S ONS , The Bible of Every Land, London; citado em D ALGADO , Glossário …, I, XVII. 8 E. J. A. R OMO , Los Escritos Portugueses de San Francisco Xavier (Braga, 2002), 167. Esta necessidade de textos vai dar origem às cartilhas escolares para uso das escolas, tanto na Índia como no Japão. Este mesmo autor fala de A ‘lusitanisação’ de S. Francisco Xavier e dos seus companheiros espanhóis (1540- 1552) , em Brotéria, Dezembro de 1998, p. 565-580. O próprio Xavier se apresenta como português: « Vamos três portuguezes e trez (sic) japães» (ib., p. 578). E noutro lugar: «E como ellos no me entendiesen, ni yo a ellos, por ser su lengua natural malavar y la mia bizcaína, ayunté los que entr’ellos eran más sabidores, y busqué personas que entendiesen nuestra lengua y suia de ellos». O tipo de literatura aqui recomendada por Xavier era, de facto, a predominante entre os católicos dessa época, impedidos de ler o texto da Bíblia directamente.
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