NG200403013
adivinhava. A melhor maneira de abrir estas breves páginas sobre a língua portuguesa no Oriente será com um testemunho do categorizado Jaime Cortesão: «Às missões, e mais que a nenhuma outra, à dos jesuítas, se deve quase tudo aquilo com que os portugueses contribuíram para a acção propriamente civilizadora na Ásia, durante esta época [séculos XVI-XVII], não esquecendo a continuação dos descobrimentos e a sua valorização científica, prolongados agora no interior dos continentes…» 1 . Por isso, já em 1536 o Padre Fernão de Oliveira afirmava categoricamente: «Não trabalhemos em língua estrangeira, mas apuremos tanto a nossa com boas doutrinas, que a possamos ensinar a muitas outras gentes e sempre seremos delas louvados e amados, porque a semelhança é causa do amor, e mais em as línguas» 2 . Prova de que estas profecias se cumpririam no século seguinte é, por exemplo, o facto de a língua portuguesa se ter tornado a língua oficial de Ceilão. Assim, o «Rajá Singa Raju Potentíssimo Emperador de Ceilão» dirige-se aos holandeses, em 1660, na língua dos antigos colonizadores da Ilha, ou seja, o português 3 . Por isso, o governador 644 HERCULANO ALVES 1 J AIME C ORTESÃO , História da Expansão Portuguesa , em Obras Completas (Lisboa, s.d.) 266. Sobre a bibliografia que os missionários utilizavam, ver José Manuel C ORREIA , Misssionação , em Os Portuguese no Malabar-1498-1580 (Lisboa, s.d.) 145-147). Sobre a missão dos jesuítas na Índia, ver Maria de Deus M ANSO , A Sociedade Indiana e as Estratégias Missionárias (1542-1622), em Portuguese Studies Review, 1-2, (New Hampshire 2001) 321-333. 2 F ERNÃO DE O LIVEIRA , Pe., Gramática da Linguagem Portuguesa, 1536. A Gramática de João de Barros (1496-1570), também é de 1536. Sobre obras editadas nas missões portuguesas dessa altura, ver B OXER , The Church Militant and Iberian Expansion-1440-1770 (Baltimore and London 1978) 41-45. 3 Ver Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa (Lisboa 25ª série 1907) 25-192. Há aqui dez cartas em português do imperador para os holandeses (p. 29- 42); as cartas XI-XX, p. 76-85, no nº 2; cartas XXI-XXVI, nas p.128-132, no nº 3; as cartas XA e XXIVA, nas p. 167-192, por David Lopes. Segundo Filippe B ALDAEUS , durante as lutas de portugueses e holandeses em Ceilão, o Secretário de Rajá Singa escreve ao general holandês estas significativas palavras: «This day, 22nd March, his imperial Majesty having sent for me, ordered the Letter writ [sic] in Portuguese to be translated in to Dutch, to be send among other to your Excellency» ( A true and exact Description of the most celebrated East-India Coasts of Malabar and Coromandel, as also of the Isle of Ceylon, by Philip Baldaeus, Minister of the Word of God in Ceylon, translated from High-Dutch, printed at Amsterdam, 1672 , III (London 1752) 781. A propósito da «rivalidade» entre portugueses e holandeses, Boxer afirma: «Apart for
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