NG200403013
tinham ao seu serviço estes «portugueses». E, como tratavam dos seus filhos, estes irão também aprender o português, que se torna, frequentemente, a língua de toda a família 37 . Por isso, os missionários tinham que saber a língua franca , ou seja, o português, para poderem anunciar a fé, mesmo os missionários calvinistas holandeses 38 . Mas o uso do português na igreja calvinista de Batávia pretendia também sufocar o resto da formação católica em que esta população tinha sido educada e ensinada. Este era certamente um argumento de política religiosa, nada desprezível para o inteligente João Ferreira de Almeida, para além do seu (possível) patriotismo. Depois de abandonar politicamente essas terras, a língua portuguesa, muitas vezes em forma crioula permaneceu sobretudo em Malaca, Djakarta e Ceilão, «como veículo de contacto linguístico privilegiado por colonizadores, por um lado, e missionários, por outro, na interacção com os indígenas». Um inglês do séc. XVIII, nada deslumbrado com a administração portuguesa dos seus territórios ultramarinos, afirmava: «Causa admiração quão vastas possessões os Portugueses tiveram outrora (…); não obstante isso, eles podem orgulhar-se de terem criado uma espécie de língua franca em todos os portos da Índia, muito usada entre os Europeus; sem ela, ser-lhes-ia difícil, em muitas partes, fazerem-se compreender bem» 39 . E um seu compatriota dizia alguns anos mais tarde: «Eu não pude encontrar uma pessoa que em dez mil habitantes da Índia que fosse capaz de falar suficientemente inglês; e pelo contrário, os Portugueses deixaram ao longo das costas vestígios da sua língua, posto que muito corrompida; ela é a língua que a maior parte dos Europeus aprendem, primeiro para A LÍNGUA PORTUGUESA NO ORIENTE 659 37 Ver K EM P ERS , O. c. , 238-239. 38 «Il paraît bien certain que pendant une longue série d’années les prédicateurs de l’Évangile ont prêché en Portugais tant dans l’île de Java qu’ailleurs. Pour preuve, nous nous référons à un auteur des plus connus du 18ème siècle qui, traitant des Indes Orientales, nous dit qu’encore vers la fin du 17ème siècle un traitement plus élevé était réservé aux prédicateurs qui ne prêchaient non seulement en Hollandais mais aussi dans la langue du pays et en Portugais [Valentijn, Oud en Nieuw Oost-Indiën , 1724-1726]» (H EYLIGERS , O.c ., 13). 39 D AVID L OPES , O.c ., 49. Sobre o crioulo de Malaca, ver Alan N. B AXTER , A Grammar of Kristang (Malacca Creole Portuguese) (Camberra 1988).
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