NG200403013
A MESTIÇAGEM PORTUGUESA A importância da língua portuguesa no Oriente depende de variados factores, que não analisamos aqui; no entanto, não podemos esquecer que isso se deve sobretudo ao facto de os portugueses não terem preconceitos raciais, o que favoreceu os casamentos entre portugueses e outros povos colonizados. Deste modo, os casamentos com portugueses e a religião dos portugueses foram factores marcantes para ser « português ». A propósito disto, o insuspeito viajante holandês van Schouten dizia em meados do séc. XVII: «Os Portugueses são mais lisonjeiros e insinuantes e, deste modo, captam muito mais a confiança dos Índios do que os Holandeses, que são mais frios e de maneiras menos atraentes» 33 . Isso levava a um modo de ser, de se comportar, de falar e até de vestir, que muito contribuía para o aportuguesamento dos indígenas 34 . A cor da pele ou o lugar de nascimento eram factores A LÍNGUA PORTUGUESA NO ORIENTE 657 conserva a mesma, ou apenas com leves modificações» (L UÍS C HAVES , O Português em Ceilão, Revista de Portugal , vol. V, Língua Portuguesa (Lisboa 1913) 82. O testemunho é do Dr. Fokker, Revista Lusitana , vol. VIII, 1903-1905). O Dr. Fokker acrescenta que é «notável que quase todas essas palavras [portuguesas adoptadas pelos malaios] ainda hoje se usem com a significação primitiva, fenómeno que, como se sabe, nem sempre se dá quando várias línguas estão em contacto entre si». E acrescenta: «Assim, no malaio, as palavras provindas do sânscrito perdem muitas vezes a significação primeira, como também grande número de palavras árabes» ( Ib ., 1-2). Esta língua, que perdurou ao longo dos séculos, é rica sobretudo em vocabulário religioso. Assim, o crioulo português de Ceilão manteve-se até ao séc. XX numa parte da sua população; era nela que se pregava, se recitavam Salmos, nas igrejas católicas, luteranas e outras. 33 Em L UIS DE M ATOS , O Português —Língua franca no Oriente , em As Províncias do Oriente (Lisboa 1966-67) 19-20; F. P EIXOTO DA F ONSECA , Noções de História da Língua Portuguesa , Liv. Clássica Ed. (Lisboa 1959) 136-151. 34 «In the colonial epoch the attitude of the Portuguese, according to wide- spread views (…), was not biased by racial prejudices. The main differences were based on the antithesis of Christendom and non-Christendom religions, first of all Islam. Once a ‘Moor’ or ‘Gentile’ had accepted Christianity, he himself tended to become more closely connected with the Portuguese since he was automatically isolated from his former community. The Portuguese, for their part, no longer objected to recognizing Asiatic and their likes as persons of more or less equal kind. Since only few women were brought from Portugal to Eastern countries, the men- folk found no difficulty in marrying indigenous girls and in giving their name to their dark-coloured children as well as to any autochthon who had accepted baptism, or
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDA3MTIz