NG200403013

Não podemos deixar no olvido um testemunho insuspeito de Dubbeldam (p. 7), a favor da língua portuguesa da Bíblia de João Ferreira de Almeida: «Durante todo o tempo da Companhia, o português manteve-se nas Índias, e em vários lugares era preciso que os pastores tivessem conhecimento desta língua. Parece que, principalmente em Ceilão, esse conhecimento foi mais difundido; mas também em Batávia se celebrou, até 1808 o serviço divino, em uma das igrejas em língua portuguesa. Sentiu-se em breve a necessidade de se possuir uma versão da Bíblia em português; porém era preciso usar a língua com cuidado especial, pois a Companhia, desde o princípio, intentava contrariar as influências portuguesas, dado que era Portugal o seu mais perigoso adversário e concorrente no Arquipélago. Sob o ponto de vista político era, assim, desejável expelir o português, mas isso não era possível em toda a parte, e os pastores sempre alegavam que, sendo o português a língua dos missionários e dos cristãos católicos, devíamos ensinar o Evangelho em português» 31 . Apesar da guerra que os holandeses lhe moveram, o português foi língua falada em Batávia, capital do império Holandês do Oriente, durante dois séculos; e, durante um século, a mais falada de todas 32 . 656 HERCULANO ALVES Serafim da S ILVA N ETO , História da Língua Portuguesa (Rio de Janeiro, 1970), 534- 536. 31 Van D UBELDDAM , De Gereformeerde Kerken in Nederland en de Zeunding in Oost-Indie in de dagen der Oost-Indische Compagnie (As igrejas reformadas nos Países Baixos e as suas missões nas Índias Orientais no tempo da «Companhia das Índias Orientais»), (Utrecht 1906); trad. port. de Eduardo Moreira, em O Defensor da Verdade, ( Lisboa 1928) 7-8. Ver D AVID L OPES , O. c., p. 63-64. 32 Ver D AVID L OPES , O.c., 114. A propósito da influência do português na língua malaia, que era a língua da região onde se situava Batávia, capital do império holandês no Oriente, temos também um testemunho holandês, que aponta as causas da superioridade do português sobre o holandês: «Comparando-se a influência da língua holandesa na malaia à da portuguesa, fica-se surpreendido ainda mais da superioridade desta última. Nós, holandeses, mantemos com o povo malaio relações que podem considerar-se três vezes mais duradouras que as dos portugueses; contudo, a quantidade de palavras nossas por ele adoptadas pode avaliar-se talvez em metade das portuguesas. O nosso idioma é demasiado duro para os malaios o pronunciarem bem, ao passo que o português é muito próprio para ser emitido pelos órgãos vocais, um tanto preguiçosos, daquele povo; isto prova-se claramente pela feição que os malaios deram às palavras adoptadas, a qual ainda hoje se

RkJQdWJsaXNoZXIy NDA3MTIz