NG200403013
conhecido que o malaio, língua materna das pessoas da região, e permitem que os pastores protestantes ensinem a catequese em português e preguem em português. O núcleo da comunidade portuguesa de Batávia era constituído pelos chamados mardykers , ou seja, escravos libertos de várias origens, que tinham sido obrigados a ser protestantes (David Lopes, 107). O Governo holandês avisa-os de que, se quisessem ser oficiais nas Companhias onde estavam inseridos, deveriam falar holandês; mas isso não deu qualquer resultado; pelo contrário, o número dos que falavam português aumentava cada vez mais (Ib., p. 108). O português irá acabar, não com leis, mas com a degeneração e «crioulização», que o descaracterizou completamente, integrando-se progressivamente na língua da região, o malaio, e no holandês, língua oficial 27 . Interessantíssima é a defesa da língua portuguesa feita por dois colaboradores na Bíblia portuguesa de J. Ferreira de Almeida, os pastores calvinistas de Batávia, Jacobus op den Akker e Augustus Tornton, em 12 de Março de 1707 28 . 654 HERCULANO ALVES 27 Um inspector holandês de escolas (ainda entre 1817-1826) ficou admirado por ter encontrado 50 alunos «portugueses» ( mardijkers ), que já liam bastante bem o holandês (K EMPERS , O.c ., 240). O desaparecimento gradual da língua portuguesa vê-se ainda pelo papel que as companhias de soldados «portugueses» desempenharam em Batávia, entre 1628-1680: o seu número cresceu de duas para seis; enquanto, no século seguinte, o seu número baixou de seis para quatro e depois de quatro para duas, até desaparecer totalmente (K EMPERS , 240). 28 Este episódio foi escrito por V ALENTIJN , em Oud eu Niew Oost-India (Dordrecht 1724) IV, 2, 101s. H UET , G., La Communauté Portugaise de Batavia, em Revista Lusitana , XII (Lisboa nº 3-4, 1909) 151-161, traduziu do holandês para francês; ver D AVID L OPES , O.c . 109-112. O documento dos pastores malaios leva como título (em francês, segundo a tradução de Huet): «Courtes remarques, concernant la fusion du service malais et du service portugais dans les mêmes églises, rédigées et remises à Sa Seigneurie, le très noble Seigneur Jean van Hoorn, Gouverneur Général, et aux Nobles Seigneurs Conseillers de l’Inde Néerlandaise, par les prédicateurs Van der Vorm et Hermanus Colddehorn», 30 de Janeiro de 1708. A este documento dos pastores «malaios», responderam os «pastores de língua portuguesa», dirigindo-se aos «Vénérables, Pieux, Très Savants Seigneurs», isto é, aos «Nobles Seigneurs» que tinham recebido o documento dos pastores malaios. No fim da tradução do documento, G. Huet faz um comentário em que afirma: «Dans tous ces pays asiatiques (Cap de Bonne Espérance, comptoirs de Perse, Surate, côte de Coromandel, Malabar, Ceylan, Malacca, Indo-Chine), la langue portugaise était, depuis deux siècles, sous une forme grammaticale ou simplifiée, la langue dominante, au moins sur les côtes et dans les
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