NG200403013

GUERRA DOS HOLANDESES À LÍNGUA PORTUGUESA A proeminência da língua portuguesa em pleno império holandês feria demasiado o orgulho batavo, para que eles continuassem a permitir tal domínio. Abundam os documentos escritos que o comprovam. Limitamo-nos, por exemplo, ao insuspeito « Oud Batávia »: «As medidas que o Governo de Batávia tomou no séc. XVII para favorecer o uso da língua holandesa não deram o resultado desejado. Pelo contrário, os próprios holandeses se viram obrigados a falar a língua portuguesa em casa com as suas mulheres mestiças, com as suas criadas e com os seus escravos; e o mais interessante é que achavam isto natural, pois, como o Governo confessava em 1674 com graça, ‘os Holandeses consideravam uma grande honra saberem falar uma língua estrangeira’ (…). Naquela época predominava a língua portuguesa, de tal modo que a falavam até os escravos oriundos das ilhas de Bali e das Célebes…» 26 . Ora, em vez do holandês dominar o português, como o pretendiam os holandeses no Oriente, foi o holandês que recebeu uma certa quantidade de vocábulos portugueses —umas duzentas palavras e locuções— como o demonstrou Haan na citada obra. A força do português era tal que os holandeses tiveram que fazer decretos e tomar medidas contra ela, o que aconteceu em 1641, 1676, 1713, 1777, 1778, 1786, 1788. (David Lopes, p. 106). Em 1634, constatam que, em plena Batávia, o português é ainda mais A LÍNGUA PORTUGUESA NO ORIENTE 653 26 F. de H AAN , Oud Batavia, Batávia, I, § 965; texto citado em A Bem da Língua Portuguesa , X,190-191, e em D AVID L OPES , 67-76, e na Revista Lusitana , XII (Lisboa 1909) 150, n.1. Este autor cita a obra Priangan, II, Batávia, 1911, p. 771-782 de F. de Haan. G. H UET relata-nos o conteúdo de uma carta de 1674 enviada pelo Governador-Geral Maetsuyker e pelo Conselho das Índias aos Directores da Companhia em Amesterdão. Aí dão conta dos esforços vãos que têm feito para erradicar a língua portuguesa e incrementar a holandesa. No entanto, o português ganhava cada vez mais adeptos, devido à estupidez dos próprios holandeses que preferiam falar uma língua estrangeira, por mais corrompida que ela fosse, em detrimento da sua língua materna. Com os escravos, falavam apenas em português, «ainda que a maior parte destes escravos fossem originários do Oriente e que esta língua fosse para eles completamente nova» (D E H AAN , Opkomst van het Nederl. gezag in Oost-Indie , VI, 125; ver H UET , O. c ., 169-170).

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