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68 Pe. Bartolameo da Monza ajudantes, acostumados desde meninos àquela vida, criaram uma segunda pele que resiste a todos os ataques dos carapanãs, e não estão nem aí, antes parecem perder tempo de propósito para ficarem deliciados com as dores dos pobres viajantes. Infeliz de quem for assaltado pela febre durante a viagem! Sem médico, sem remédios, é entregue a si próprio para livrar-se dela como puder. Chegados a Pedreiras, da frigideira se pula para o fogo. Lá o vapor para, e é necessário mudar de transporte. Do barco a vapor, se passa para uma canoa ou barcaça. A viagem faz-se mais enfadonha do que é pos- sível imaginar, a comida é ainda pior, os carapanãs perturbam dia e noite, e não se acha lugar para acomodação. O que há para se proteger da chuva e do sol é só uma pequena cobertura de palha, e de Pedreiras a Barra do Corda se gastam de doze a quinze dias! Por essa razão, quase todos reti- ram sua bagagem das canoas e prosseguem a viagem a cavalo, o que é uma façanha, para quem não sabe cavalgar. Trata-se de quarenta léguas – que correspondem mais ou menos a 320 km –, sem estrada propriamente dita, e com apenas picadas dentro da mata, rios a atravessar, ladeiras e precipí- cios que, pelas íngremes subidas e descidas, tornam a viagem muito difícil, escabrosa e cheia de perigos. Ao ouvir tais coisas, as irmãs não desanimaram, mas com todo o bom humor italiano responderam: – É mais que a travessia dos Alpes! Seremos outros tantos Na- poleões! E ficou decidido que a viagem continuaria a cavalo. O padre Vittore e um empregado da casa das missões de Barra do Corda, chamado Claro d’Almeida, que tinham ido a Pedreiras para acompanhá-las, passa- ram-nas às cavalgaduras e tudo dispuseram de modo a tornar a viagem o menos penosa possível. O Sr. Claro – cujo nome quer dizer branco, mas que, de fato, é negro que nem carvão – ainda hoje está empregado em Barra do Corda, e às vezes gosta de relembrar os dias de ouro da Missão, da qual fez boa parte como factótum. Recordando a partida das irmãs de Pedreiras para a Barra, ele costuma chamá-la a comédia de Pedreiras, e a conta como se tivesse acontecido ontem: ao ver as mulas que tinham sido preparadas para a viagem, algumas religiosas ficaram com medo, outras riam, havia quem
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