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O massacre de Alto Alegre  57 tura, formando bons pais e boas mães para as futuras gerações, assegurando assim ao mundo todo a civilização. Toda essa digressão foi para introduzir os meus leitores no co- nhecimento da nossa pequena selvagem chamada Josefina, e para respon- der indiretamente aos positivistas do Estado do Maranhão, no Brasil, os quais, por ocasião do massacre de Alto Alegre, disseram que os missioná- rios foram a causa daquela carnificina, pelos maus-tratos que praticavam contra os filhos dos selvagens. Era o dia 4 de fevereiro de 1899. A aurora despontava e longas nesgas de nuvens avermelhadas adornavam o horizonte. Os primeiros raios de sol douravam os cumes das árvores seculares das matas vizinhas. Ao repique do sino, os selvagens saudavam o seu Criador e a Rainha do Céu, enquanto alguns devotos se dirigiam à igreja para assistir ao santo sacrifício da missa. Padre Celso abriu a porta da igreja, e grande foi a sua surpresa quando viu, a poucos passos dali, uma pequena menina selvagem. Ela não haveria de ter mais que dois anos de idade, e seu corpinho estava nu e tão coberto de feridas, que causava dó o só vê-la no chão. Padre Celso foi ao seu encontro, animou-a e lhe perguntou com doçura: – Quem é você? De onde vem? Qual é o seu nome? Cadê a sua mãe? A pequeninha não respondeu: chorou, e suas lágrimas eram o efeito do sofrimento, do medo e do abandono. Padre Celso, que amava ternamente aquelas pobres filhas dos selvagens, procurou consolá-la, mas a pequena, com suas mãozinhas descarnadas e sujas, cobria o rosto e con- tinuava a chorar. Naquele momento uma mulher chegava à porta da igreja. Padre Celso lhe perguntou se ela conhecia a pobre menina. A mulher respondeu que não. Ele então lhe pediu que tomasse conta da criança a partir daquele instan- te, enquanto não fossem encontrados os seus pais, que não podiam estar longe, prometendo, ao mesmo tempo, que ele arcaria com todas as despesas, e que a mulher também receberia uma boa recompensa por seus esforços. Mas quem era aquela menina? De onde vinha? Tinha ou não tinha pais? Como podia estar àquela hora, sozinha, diante da porta da igreja? Logo o mistério foi esclarecido. A menina era filha de uma mulher de nome Rosa e sobrenome Cunha, de uma tribo selvagem da aldeia do Coco. Abandonada pelo companheiro, também selvagem, tinha-se unido

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