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54 Pe. Bartolameo da Monza desabalada. Trajano e Clementino ganharam a estrada que leva a Barra do Corda. Os outros selvagens se dispersaram e voltaram às suas aldeias. O padre Zaccaria, que morava em Barra do Corda, foi logo infor- mado de quanto havia se passado na colônia. Ele conhecia de vista Trajano e Clementino. Dias depois, viu-os em Barra do Corda, vendendo milho, na maior indiferença. Achou que seria bom avisar as autoridades civis sobre a presença deles, e pouco depois eles foram presos. Sabedor da prisão dos dois selvagens, o coração do padre Celso se comoveu e se encheu de amargura. Ele, que não se perturbara quando sofreu o atentado, sentia-se possuído de grande tribulação, pelos sofrimentos daqueles que haviam procurado tirar- -lhe a vida. Verdadeiro missionário, ele bem compreendia as palavras de Jesus Cristo, que “o bom pastor dá a vida para salvar as ovelhas de seu reba- nho”. Para padre Celso, os selvagens eram as suas ovelhas, os seus filhos ama- dos, e ele estava sempre pronto a procurar as perdidas e levá-las nos próprios ombros de volta ao aprisco, depois de encontrá-las. Do mesmo modo que o pai do Filho Pródigo, ele não desejava senão abraçar e dar o beijo da paz e do perdão ao filho que retornava, e festejar o regresso dele à família dos filhos do Senhor. Por isso, intercedeu perante as autoridades civis em favor dos filhos rebeldes. Pessoalmente, junto com frei Salvatore, enviou uma petição para que fossem soltos. Ao mesmo tempo, declarava que ele e seu companheiro de religião e missão já haviam perdoado e esquecido tudo. Ao receber a petição, a autoridade civil surpreendeu-se de início e muito se admirou, mas depois entendeu a grande virtude dos missionários, a magnanimidade de seus co- rações, e seu intento sobrenatural. A autoridade entendeu que a petição era movida pela caridade de Jesus Cristo, a qual nada permite aos seus missioná- rios descuidar do que possa servir à edificação e salvação dos próprios irmãos. O perdão foi concedido, e a notícia foi levada ao padre Celso pelo próprio juiz, senhor Arão. Os dois presos, quando souberam que seus intercessores haviam sido o padre Celso e Frei Salvatore, entenderam, apesar de selvagens, a grandeza e a magnanimidade do ato. Postos em liberdade, foram lhes pedir perdão, jurando que ficariam sempre fiéis aos missionários. E não mais tomaram parte nas rebeliões que se seguiram.
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