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O massacre de Alto Alegre  53 Adiantada a noite, a lua lhes clareava os passos. Poucas estrelas brilhavam no firmamento. O profundo silêncio era apenas interrompido pelo canto dos grilos e da coruja, que à noite sai à procura da presa. Eles já se aproximam da colônia. Param. Seu intento era surpreender os missio- nários sem provocar alarme entre os colonos. Assegurados de que tudo está quieto, atravessam em silêncio a via principal do casario e logo se acham na pequena praça em frente à casa dos missionários. A lua tinha já desapa- recido. Somente as estrelas deveriam ser testemunhas da cena de sangue orquestrada por aqueles animais selvagens em forma de gente. Protegidos pela escuridão, os monstros se fazem invisíveis ao olho humano. Mas Deus velava sobre os seus servos: a hora do sacrifício não era ainda chegada. Em voz baixa, Trajano diz a seus companheiros: – Lá dentro estão as nossas vítimas repousando em paz. Logo acordarão, mas é para se encontrarem no sono eterno. Coragem, a primeira descarga seja o sinal do ataque, da destruição, da morte. Pouco depois ouve-se um tiro de fuzil como se fosse um só gol- pe. Aquele golpe ressoa pelo terreno baixo, enquanto o estrondo se perde na imensidão das matas vizinhas. Toda a colônia põe-se de pé. Ninguém mais dorme. A surpresa é completa. Não sabendo de que se trata, todos são tomados de um mis- terioso terror. Entretanto, os conjurados gritam a toda voz: – Padre Celso, padre Celso, apareça. Aqui estão aqueles que atentaram contra a sua vida. Eles estão presos, a Justiça os prendeu. É apenas uma astúcia, um engodo dos assaltantes. Eles querem é que abram as portas para entrarem e começarem a carnificina. Passado o primeiro susto ocasionado pelas descargas de fuzil e pelos gritos e imprecações, padre Celso e os demais missionários combina- ram as ideias, e logo lhes veio à mente a possibilidade de um engodo e de uma emboscada. Decidiram então que ninguém saísse de casa e se man- tivessem fechadas as portas até que tudo ficasse esclarecido. Foi uma pro- vidência: os conspiradores não tiveram tempo de derrubar as portas para entrar e completar o horrendo delito, pois logo começaram a aparecer na praça os cristãos e selvagens fiéis aos missionários. Os assaltantes, temendo ficar encurralados, superados em número e presos, puseram-se em fuga