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40 Pe. Bartolameo da Monza os adultos na maioria das vezes voltavam à vida brutal. De quanto seria sua brutalidade pode-se ter uma ideia quando se pensa que em 1537, com toda seriedade, alguns missionários propuseram a seguinte questão ao papa Paulo III : se os selvagens deviam ser considerados como seres humanos, e se podiam ser batizados. Por causa desse embrutecimento, e engolfa- dos por obstáculos quase insuperáveis, os missionários, sabendo que Deus pode suscitar filhos até das pedras, continuaram a obra evangélica com zelo infatigável. Esse extraordinário trabalho foi coroado de sucesso e a seu tempo trouxe frutos abundantes. Tribos inteiras foram convertidas ao cristianismo, cidades foram fundadas, e o Brasil pôde ser povoado por um povo civilizado e cristão retirado das selvas. E onde não conseguiram fun- dar cidades e estabelecer comunidades cristãs, os missionários conseguiram pelo menos instilar no coração dos selvagens a ideia da própria dignidade, e lançar a semente que ainda hoje, embora desconhecido a quem não co- nhece o selvagem, não para de produzir frutos e oferecer esperança de um futuro e completo ressurgimento. A influência dos missionários e dos seus instrutores transmitia-se de tribo a tribo, não sendo de admirar que quan- do portugueses e brasileiros ocuparam pela primeira vez o lugar onde no presente surge a pequena cidade de Barra do Corda, as tribos selvagens dos canelas, mateiros e guajajaras, que vagueavam nos arredores, não oferece- ram resistência, mas pacificamente se retiraram e se infiltraram nas selvas. E nem é de admirar que, passado o tempo, se tenha estabelecido certa relação entre os novos ocupantes e os selvagens, e que estes, quando lhes convinha ou vinha ao capricho, se prestassem a vários trabalhos e serviços. Em 1855, Barra do Corda tinha já uma população suficiente para tornar-se vila, e assim foi oficialmente reconhecida pelo Governo. Naquele tempo, alguns desejaram estabelecer uma espécie de diretoria para os selvagens, e especialmente para a tribo dos canelas, a mais inteligente e que mais se prestava aos trabalhos. A ideia foi adotada e posta em prática. O primeiro a ocupar aquele posto foi Manuel Rodrigues de Melo Uchoa. Este tinha idade já avançada e, por isso, nunca ou quase nunca se meteu nos negócios dos selvagens, e a coisa andava razoavelmente bem. Sucedeu- -lhe João da Cunha Alcanfor. Homem ativo, empreendedor, destemido, fixou moradia próximo às aldeias dos selvagens, no lugar que hoje se cha- ma Cateté. O senhor Cunha serviu-se do título de diretor para tiranizar

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