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22 Pe. Bartolameo da Monza instrução religiosa e das primeiras letras que tentara introduzir entre os índios, “é forçoso lhe diga, não fui feliz no meu empenho; e não conheço quem o tenha sido”. 10 Os caingangues, guaranis e caiovás rejeitam o batismo e o casamento (“a poligamia simultânea impede esse sacramento”) e não admitem abandonar a prática de seus rituais. Poderia ter igualmente funcionado como alerta aos no- vos catequistas a experiência do capuchinho Giuseppe Maria da Loro, que estivera com esses mesmos guajajaras entre 1870 e 1875. Nomeado pelo governo diretor da colônia Dois Braços, frei Giuse- ppe Maria enfrentou a resistência dos índios às suas tentativas de reduzi-los , e teve que fugir, ameaçado de morte. Estivessem sintonizados com as ideias que circulavam além dos muros dos conventos e centros teológicos, os capuchinhos desembarcados no Maranhão naquele fim de século saberiam que o etnocentrismo, na verdade o eurocentrismo, já provocava discus- sões acaloradas nas academias. Na Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos, o alemão Franz Boas dava início a uma revolução nos estudos antropológicos, ao combater o conceito, então generali- zado, de que existiria uma escala evolutiva da condição humana, tendo na base o ”selvagem”, e, no ponto mais alto, as sociedades civilizadas europeias, que deveriam servir de espelho e modelo às demais. Pioneiro em ideias sobre igualdade racial, matriz dos mo- dernos estudos de antropologia cultural, Franz Boas demonstrava que indígenas de algumas regiões da América tinham atingido ní- veis de desenvolvimento comparáveis aos dos povos de que se origi- navam as civilizações europeias contemporâneas. Nasciam os prin- cípios do relativismo cultural, recomendando que, no contato com 10 Amoroso, Marta Rosa. “Mudança de hábito: catequese e educação para índios nos aldeamentos capuchinhos”, In Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 13 n º 37. São Paulo (SP), 1998.

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