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O massacre de Alto Alegre 21 os “mártires” de Alto Alegre, em contraposição à imagem dos “algo- zes e assassinos”. Os capuchinhos construíram, com gestos e providências, a narrativa sobre o episódio que iria prevalecer por todo o século. Os restos mortais dos padres e freiras foram depositadas numa urna, exposta aos fiéis na igreja de Barra do Corda, enquanto missas solenes em memória dos religiosos sacrificados eram promovi- das em São Luís, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e outras capitais. Na Itália, cuidou-se da edição deste Massacro di Alto Alegre, enquanto frei Dâmaso encarregava-se de pintar uma tela em óleo de grandes dimensões em que as vítimas da barbárie flutu- am num céu de nuvens. A reprodução da imagem, em santinhos, foi distribuída profusamente nas dioceses da Itália e do Brasil. Para que não se apagasse da memória dos católicos aquela ignomínia, na fachada recoberta de mármore de Carrara da nova igreja de Barra do Corda, inaugurada em 1951, foram afixadas, sob um fundo dourado, as efígies dos mortos. * A Ordem dos Capuchinhos demorou mais de meio século para reconhecer os equívocos daquele projeto de evangelização indígena que procurava combinar, de forma radical, catequese e colonização. A congregação sabia, por experiência, que o Regulamento da catequese e civilização dos índios, aprovado por decreto do impe- rador, em 1845, e que vigorou até o advento da República, proibia a imposição do catolicismo e desaconselhava a reclusão, contra a vontade dos pais, das crianças indígenas dos aldeamentos. Desse projeto, em que o Estado compartilha a administração dos assuntos indígenas com as ordens religiosas, participaram dezenas de capu- chinhos italianos, à frente de diversos aldeamentos. Do aldeamento São Pedro de Alcântara (1855-1895), no Paraná, frei Timóteo de Castelnuovo advertira, em relatório, que na
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