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O massacre de Alto Alegre 197 seguida a outras notícias de menor interesse, apresenta-lhe as saudações “das 32 selvagens, que estão todas bem”. Bem mais precioso é o pós-escrito, com a assinatura das seis irmãs, dirigido à madre-superiora. Entre outras coisas destaco este pensamento tão humilde e gentil: “Sem dúvida, a sua morte inesperada do [padre Celso] nos deixou impressionadas, mas a consideração de suas virtudes nos faz envergonharmo-nos de nós mesmas, que até o pre- sente temos feito tão pouco pelo Senhor, e ainda tão atrasadas estamos na perfeição, embora Deus nos tenha privilegiado com graças especiais. Creia, cara Madre, que temos prometido nos convertermos de coração e nutrimos firme esperança de que também o padre Celso, lá do Céu, nos ajudará nesta árdua empresa e nos alcançará do Senhor um pouco de seu espírito, para levarmos adiante esta missão por ele começada com tanto zelo, abnegação, generosidade e sacrifício.” Notícias menos alegres eram dadas noutra carta, de 28 de feve- reiro de 1900: “Parece que o Senhor” – ela escreve – “nos quer visitar um pouco, neste primeiro ano em que aqui estamos. Estamos com todas as meninas doentes, e, como já lhe escrevi, começaram as febres. Depois se manifestou a rubéola, e com tanta rapidez e violência, que, em menos de quinze dias, de quarenta meninas, temos apenas cinco em pé e só uma em convalescença. Cinco já levamos para o cemitério. Por conselho dos reve- rendos padres, manteve-se o caso encoberto o quanto se pôde, mas, com a morte da primeira, tudo foi descoberto. Em pouco tempo, a nossa casa se encheu de caboclos, todos querendo ver a própria filha. Para acalmá-los, temendo por uma revolta, tivemos que nos adaptar a deixar ficar em nossa casa, por dois dias e duas noites, todas as mães das meninas. Imagine a nossa casa transformada em aldeia: cantavam, gritavam e choravam, e nós a corrermos de uma para outra, para acalmá-las, a fim de que não nos levas- sem embora as meninas. Os reverendos padres fazem o que podem: trouxe- ram um senhor que entende bem de homeopatia, e ele declarou, com toda clareza, na frente dos caboclos, que poderemos agradecer ao Senhor se até o fim do mês ainda tivermos a metade das meninas. Mas podemos dizer que ele foi de grande ajuda para nós, pois mandou embora de casa todas as caboclas e os caboclos, exceto duas velhas, as quais, pobrezinhas, nos ajudavam no trato das meninas. E agora, aqui estamos nas mãos de Deus. Colocamos a imagem de Maria Menina no dormitório. Fizemos tríduos e
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