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O massacre de Alto Alegre 163 deixemos de apreciar a sua abnegação no cumprimento daquele grande ato de caridade e de religião. Com a ajuda de uns alunos da escola de Barra do Corda, ele fez primeiramente a exumação dos cadáveres encontrados na cisterna do convento. O primeiro foi o do padre Rinaldo, a última vítima atirada na cisterna. Esta não tinha ficado bem coberta: a cabeça do missio- nário ficou exposta a todas as intempéries. O sol dardejava-a com seus raios de fogo, e as chuvas despejavam nela suas águas torrenciais, de modo que, quando os padres chegaram a Alto Alegre, ela estava já completamente dissecada. Aquela relíquia foi recolhida no mesmo dia da chegada. Depois dele, foram exumados o padre Zaccaria e o irmão leigo frei Salvatore, que estavam amontoados na mesma cisterna, com as sete irmãs. Todos ainda usavam a sua indumentária, e foi fácil reconhecê-los. O padre Stefano não desejava partir sem ter descoberto também os despojos do padre Vittore, para levá-los todos juntos à Barra do Corda, mas toda procura foi inútil. E o simples deter-se por mais tempo tornava-se muito perigoso, tal o mau cheiro que exalava aquele campo mortuário, e era urgente dar honrosa sepultura às relíquias já descobertas. Ficou resolvido, então, partirem com aqueles caros tesouros, e voltarem mais tarde a Alto Alegre para cumprir o mesmo ato de misericórdia. O padre Stefano chegou a Barra do Corda ao pôr do sol, duas ho- ras após a partida dos padres Carlo e Giovanni. Uma mula levava as preciosas relíquias dos mártires capuchinhos, outras mulas levavam as das irmãs. O recebimento das relíquias foi modesto, devoto, e em todo acordo com o rito. Elas foram conduzidas para a capela dos religiosos. A banda do colégio tocava uma marcha fúnebre. O seu toque era triste, cho- roso. Em seguida fizeram-se as exéquias. No dia seguinte, o reverendo padre Roberto e frei Vincenzo, com a ajuda de pessoas pias, lavaram aqueles sagrados ossos. Na primeira manhã do dia 15 de maio, os ossos dos religiosos capuchinhos foram depo- sitados numa caixa, os das religiosas em outras duas caixas, depois sepulta- das num túmulo preparado no recinto da casa religiosa da Barra do Corda. Duro, muito duro para os religiosos é, ainda hoje, ir à tardinha àquele túmulo, e lá, sobre os ossos dos mártires – “primícias do século XX ”, segundo a tocante expressão do pontífice Leão XIII – erguer humildes preces a Deus. E enquanto rezam pelo eterno descanso daquelas almas,
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