BCCCAP00000000000000000001766

O massacre de Alto Alegre  159 pelos terríveis sicários. O fato o demonstrava. As aldeias de Naru, de José Viana, de Cunoda, de Policarpo, e dos selvagens das tribos dos canelas, de quem eram filhos quase todos os recolhidos no instituto e que sem- pre tinham mostrado grande satisfação pelo modo como seus filhos eram tratados e educados, não tomaram parte nenhuma na insurreição, nem reclamavam seus filhos. Os revoltosos pertenciam a aldeias circunvizinhas de Alto Alegre, de Grajaú e das matas das Alpercatas, de Itapicuru e dos Penitentes, que nada ou quase nada tinham a ver com os meninos do insti- tuto de Barra do Corda. Eles mesmos não haviam pedido a devolução dos filhos, nem ao Governo nem tampouco aos missionários. O seu propósito era bem outro. E mais: a revolta brutal foi orientada pelo Caboré, e por Paiva e Manuel Justino, selvagens já civilizados, que se entendiam com os civilizados, e em nada se relacionavam com os filhos do instituto. Se o mo- tivo da revolta era realmente reaver os filhos e as filhas, por que não fazê-lo pelos meios legais? Por que não se contentar com o massacre dos missioná- rios e com a destruição da colônia a eles pertencente? Por que atacar outras colônias, outros lugares, e massacrar tantos inocentes, que nada tinham a ver com os institutos dos filhos e filhas dos selvagens? Por que destruir tan- tas propriedades? Por que tanta depredação? Por que tanto vandalismo? O Governo nada alcançava de tudo isso. Como foi liberal com os selvagens, com os assassinos, com os depredadores! Pelo contrário, foi inexorável com os missionários, e a ordem tinha que ser cumprida! Ao deixarem o instituto, os filhos dos selvagens choravam amargamente. Eu vi alguns da- queles que foram obrigados a voltar às suas aldeias. Agora são homens, têm filhos. Oh, quanto desejam o antigo instituto para seus filhos! E ainda: se o amor aos filhos foi o verdadeiro movente do massacre, como se explica que mais de trinta meninos entre dois e sete anos não tenham sido reclamados por ninguém, embora tivessem parentes? Aqueles meninos ficaram no instituto e foram mantidos às custas da Missão. O Governo tinha prome- tido pagar o sustento deles e indenizar a Missão pelas despesas necessárias. Aliás, emitiu uma ordem especial neste sentido, mas o dinheiro, por anos, não foi desembolsado. Mais tarde foi paga uma parte, mas a Missão ainda está em crédito. Crédito que o Governo, talvez, nunca irá satisfazer. Padre Carlo se sentia trespassado pela dor: seu único conforto, na tremenda catástrofe, era o pensamento de que a Missão, por ele fun-

RkJQdWJsaXNoZXIy NDA3MTIz