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O massacre de Alto Alegre 153 os selvagens não atacaram os frades e as freiras com o intuito de reaver os meninos e as meninas das suas várias escolas e instituições, mas apenas pelo gosto de matar e roubar, e que, naquela circunstância, estavam preparados para enfrentar qualquer força enviada contra eles. Mas o Governo simplesmente proibiu qualquer expedição, ale- gando que, se os índios fossem vitoriosos, tomariam conta da pólvora e das munições, e mais prolongada seria a resistência. Aduziu-se que atacá- -los seria exasperá-los, e que o tempo se encarregaria de remediar a tudo. Dizia-se: os missionários e as freiras não estão mais vivos. Está afastada a causa da refrega. Os índios acalmarão a sua fúria. Todavia, os selvagens continuavam a demolir habitações, a roubar os terrenos cultivados, e a aniquilar o gado. Os índios já estavam a poucas léguas da Barra do Corda, e os ci- dadãos insistiam e gritavam pela expedição. O coronel Pinto viu-se obriga- do a telegrafar ao governador, comunicando ser preciso usar de força para desalojar os índios de Alto Alegre. O governador respondeu autorizando o coronel Pinto a recrutar homens, fazer gastos e tudo dispor. O coronel, porém, deixava correrem os dias sem nenhum preparativo, e passeava com toda indiferença pela pequena cidade da Barra do Corda, como se nada tivesse acontecido, e como se o inimigo já não batesse às suas portas. Os soldados nunca chegavam, e se algum aparecia, era um cavaleiro sem ca- valo, um soldado sem botas, em mangas de camisa, roupas poucas e esfar- rapadas, todos sem munição. Alguns até levavam mulher e filhos, e estas carregavam trouxas de roupa à cabeça, etc., etc. Vê-los causava dó. Soube-se depois que o coronel Pinto recebera ordens para não atacar os índios, porque estes retornariam por si mesmos à vida normal em suas aldeias. Era essa a única punição que o Governo resolvia infligir aos criminosos que tinham causado tantas lágrimas, aniquilado tantas famílias, destruído tantas propriedades, cometido tantos delitos: retornar a seus la- res com um rico despojo! O padre Stefano, superior da Barra do Corda – conforme desta- co do Livro de Tombo – achou que era seu dever solicitar, mediante carta ao coronel Pinto, que fosse preparada uma expedição séria, bem guarneci- da, segura de vitória. Quando a recebeu, o coronel deu a impressão de cair das nuvens, como se nada soubesse, pois dizia não compreender o signifi-
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