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O massacre de Alto Alegre  149 Naquele tempo, a Barra do Corda não estava quieta. Vozes con- tínuas de uma próxima invasão perturbavam-lhe a paz e tranquilidade. Com todo o seu aparato, a cidade não se encontrava em condições de opor longa resistência. Se os selvagens descessem, a Barra teria sido destruída. Como era natural, começou-se por telegrafar ao governador e ao superior da Ordem. O diretor d’ A civilização da Barra do Corda mandou ao gover- nador o seguinte telegrama: “Índios mataram frades, freiras, cristãos situa- dos na colônia indígena de São José. Continuam na posse e carnificina. Barra assustada. Peço vossas providências enérgicas e urgentes.” Há quem pense que o massacre de Alto Alegre não teria aconte- cido senão por obra da maçonaria. Eu não vejo maçons por todos os can- tos, mas algumas vezes há circunstâncias que fazem suspeitar da presença deles. Há o fato de que o Caboré tinha estado em Maranhão, onde foi recebido e cumulado de honras, adulado, lisonjeado. Houve quem afir- masse que o Governo soubesse ou estivesse de acordo com alguma coisa do que se estava conjurando contra a Colônia. Voltando a Alto Alegre e encontrando um motivo de vingança, o Caboré executou o plano. Ele se surpreendeu, ficou maravilhado, quando as tropas regulares o atacaram. E não mais assaltou, apenas se defendeu. Do Governo, ele não esperava senão recompensas por suas nefandas ações. Conhecido o morticínio e o massacre, os órgãos da maçonaria tiraram vantagem da ocasião e se alegraram com aquela desventura, aquela mortandade. Basta ler o Diário do Maranhão, a Pacotilha e a Gazeta ca- xiense, para quem os frades eram os assassinos e os selvagens as vítimas. Entanto, na Barra do Corda se recebiam telegramas, alguns dos quais eram de consolação e bálsamo, os quais, se não mitigavam a dor, encorajavam a esperar no Senhor. Outros aumentavam o desânimo e a tristeza. Mas os artigos dos referidos jornais estavam cheios de mentiras e calúnias contra os religiosos. A coisa ficou tão escandalosa que, segundo se lê no livro do m. reverendo padre Timóteo, então visitador e comissário-geral, o padre Stefano, superior da casa da Barra do Corda, viu-se obrigado a mandar um longo telegrama ao governador do Maranhão desmentindo as acusações que se faziam naqueles jornais contra os missionários. Depois, o m. reve- rendo padre Timóteo achou conveniente escrever a S. Exa. Revma. mons. Macchi, arcebispo de Tessalônica, núncio apostólico do Brasil, residente

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