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148 Pe. Bartolameo da Monza ram cortadas aos pedaços. Antônio Calangro foi surpreendido com toda a família: ninguém salvou-se do furor selvagem. Brás, Manuel, Antônio, Isaque, Pedrinho, Ana, Francisco, Joana 11 e muitas outras pessoas acrescen- tavam o número das vítimas, sem parar. Pelo caminho e nas matas, assassinaram numerosos viajantes, entre os quais José Carolino dos Santos, que passando casualmente e ig- norando os terríveis morticínios, procurava um abrigo para algumas horas de repouso. Uma vez extinto o último dos cristãos, João Caboré, Manuel Justino e outros caciques, sem que lhes pungisse o remorso nem provocasse náusea a vista dos corpos das suas vítimas, expostos à rapina dos urubus, e o mau cheiro que exalavam tantos cadáveres insepultos, em hórrida pu- trefação e decomposição, resolveram de comum acordo estabelecer-se em Alto Alegre. Chegando a Alto Alegre, o primeiro cuidado de João Caboré foi apoderar-se do butim, parte do qual dividiu com os caciques. Distribuiu armas de fogo e um barril de pólvora. Com Manuel Justino, que já havia servido ao exército regular, e era tão ativo e irrequieto quanto perverso, conhecedor das táticas militares, estrategista e corajoso, ordenou tudo para resistir a qualquer força que Barra do Corda e Grajaú pudessem mandar contra eles. As duas vitórias relatadas sobre o tenente-coronel Tomé e sobre o capitão Goiabeira haviam dado convencimento aos selvagens que eles tinham poder, valor e destreza, e que, a partir de então, ninguém duvidaria que eles e somente eles fossem os senhores e reis das selvas. As ordens de Caboré e Manuel Justino eram seguidas ao pé da letra. E a primeira palavra de ordem era: “Morte a todos os cristãos!” Senhores absolutos de uma zona extensíssima, contínuas eram as suas correrias: devastavam campos, plantações, arrasavam ou incendia- vam as casas abandonadas por seus moradores aterrorizados, dizimavam o gado de qualquer espécie. Era a culminância do vandalismo. 11 Os nomes foram quase todos colhidos do discurso de denúncia pronunciado pelo promotor público Raimundo Bona, durante o processo.
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