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O massacre de Alto Alegre 13 seus compatriotas “com amor de filho que deseja honrar a sua Mãe, a Santa Igreja”. A partir da visão etnocêntrica do mundo que prevaleceu no universo acadêmico e conventual da Europa até meados do sécu- lo XX , marcada pelo preconceito contra os povos primitivos do Novo Mundo, então considerados seres inferiores que precisavam ser redi- midos pela “verdadeira civilização”, a cristã e ocidental, o sacerdote descreve o sacrifício dos irmãos capuchinhos e irmãs terciárias que deixaram pátria, família e confortos da Europa para se entregar plenamente à missão de converter, nas selvas brasileiras, “infiéis sel- vagens”, para torná-los “cristãos civilizados”. Ao tempo em que discorre sobre a epopeia franciscana, denuncia “a crueldade e a ingratidão” do índio, que teria praticado o massacre por má índole – ele é “supersticioso, ladrão, cruel, disso- luto” – e induzido por inimigos da missão – positivistas, maçons, pastores evangélicos, comerciantes, a massa anticlerical do sertão. “Selvagem”, o índio “parece possuir apetite apenas para o delito, e não para o seu remorso”, pois, para o autor, o indígena que habita esses territórios não é o homem primitivo, “e sim o homem decaído, é o homem corrompido, é o homem animalizado”. Por mais que representasse a consagração da vida, paixão e morte daqueles intrépidos religiosos, elevados à condição de már- tires, o livro de frei Bartolomeu da Monza, que deve ter chocado os católicos italianos e comovido o Santo Padre, ficou limitado àquela edição, hoje, felizmente, resgatada pelas Edições do Senado como importante testemunho, fruto da mentalidade de uma época, sobre um fato histórico de grande relevância. Com o tempo, na velocidade do surgimento de novas ideias no campo da antropologia e outras ciências sociais, que mudaram a visão da Igreja sobre evangelização indígena, a Ordem dos Capu- chinhos desinteressou-se não apenas pelo livro, por seu anacronismo,
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