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142 Pe. Bartolameo da Monza O sacerdote, no altar, distribui o Pão dos Anjos. Ah, Jesus, qual terá sido a vossa última palavra àquelas almas tão venturosas que em pou- cos instantes se tornariam vossas esposas por toda a eternidade? Jesus! Eu, mesquinho, não as posso compreender; mas a delicadeza do vosso Divino Coração tudo me diz... O sacerdote está aos pés do altar. O sacrifício está para começar, como reparação pelas maldades cometidas naquela noite. É o sacrifício que pede perdão, o sacrifício que pede luz sobre aqueles selvagens, para que, ar- rancados ao Demônio, se tornem parte do único Aprisco. É o sacrifício no qual o sacerdote pede como Jesus pediu em favor dos seus carnífices. O toque do sino foi também o sinal que os caciques das tribos deram aos seus subalternos. Aquele toque, de oração e de amor, era para os selvagens o sinal que indicava a hora do delito, da carnificina, do ódio ferino. Os bandos saem das matas, rodeiam a igreja, cercam a morada dos religiosos, o convento das freiras e as casas dos cristãos perto deles. Manuel Justino, à porta da igreja, descarrega o fuzil. O celebrante, padre Zaccaria, cai ao chão. Sua alma voou para Deus. Seu sacrifício está consumado. A carnificina é geral, o sangue corre aos borbotões. Mas eles não param de ferir, a morte não se detém... Cai por terra o portão que separa o altar da casa das freiras do das educandas: o tigre não se lança sobre a presa com maior velocidade e fereza. Não se precisa mais de fuzil: bastam facões e varapaus. As vítimas caem mortas sob golpes furiosos. Indescritível o espanto. As meninas abraçam suas mães espirituais gritando: “Não façam isso com a gente, não façam isso com as nossas mães, não as matem, tenham piedade...” Tudo em vão: aqueles corações não conhecem piedade. O sanguinário extermínio continua com ferocidade, sem interrupção. Na confusão, algumas conseguem escapar... mas são logo perseguidas. A mão do selvagem, a faca e o porrete não poupam ninguém. Irmã Ana, brasileira, ainda noviça, é cruelmente ferida no alto de uma escada, em meio aos gritos desesperados das pobres meninas. Ainda viva, é arrastada para o chão. Prostra- da, encontra forças suficientes para se dirigir às crianças que choram, e lhes diz: “Fujam, minhas filhas, fujam... Corram, conservem-se boas, amem o Senhor!” Dada como morta, foi abandonada sozinha. Ao meio-dia respira ainda: a pe- quena Úrsula vê a irmã com o terço na mão a rezar. A pequena, que foi sua aluna, aproxima-se dela e lhe diz: “Pelo amor do Céu, não se mexa, senão esses bárbaros virão para matá-la!...” Poucos momentos depois, a irmã expirou.

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