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O massacre de Alto Alegre 141 são, pelos imperscrutáveis juízos de Deus, aos quais devemos nos subme- ter, os quais devemos reverenciar e aceitar como atos de sua Providência geral, estava destinado ao extermínio, a ser arrasado. Chega a tarde do dia 12 de março de 1901. A noite avança, des- ponta a manhã do dia 13. Que tarde! Que noite! Que manhã! Era a tarde. Era a hora em que a sombra e a escuridão se põem sobre a cumeada dos morros, e o jacaré sai das águas para deitar-se sobre a areia morna. Aqui e acolá veem-se chegar selvagens desconhecidos. Ninguém lhes pede satis- fações. Os missionários, as irmãs, os cristãos todos estão enganados: “São selvagens que vêm tomar parte nos festejos!” A noite avança, o próprio ar atordoa-se com os roucos sons da inú- bia e do maracá, ao mesmo tempo em que os cantos selvagens misturam-se à harmonia sinistra daqueles instrumentos ásperos e retumbantes. Émeia-noite. Orgias horríveis, orgias infernais. Os homens, com adornos selvagens, o corpo todo pintado, unem-se em grupos, fazem intenso barulho, gritam, berram. As velhas, de aspecto horrendo, também elas pintadas de listas vermelhas e negras, berram e encorajam o sexo viril, enquanto preparam comida e bebidas quentes e fermentadas para serem distribuídas aos dançantes. A dança recomeça, aqueles vultos horrendos, olhos em brasa, face pintada a representar a fera da selva, cabeças coroadas de penas e plumas, arco e flecha aos ombros, passam velozmente ao redor das grandes fogueiras como tantos espíritos satânicos envolvidos nas chamas eternas. A dança con- tinua, continuam os cantos, apavorante é o barulho. A bebedeira continua, todas as matas ao redor ecoam, repercutem, ribombam com ininterruptas explosões de bombas, tiros de fogos de artifícios e disparos incessantes. São cinco da manhã. De repente, ouve-se um som de paz: são os repiques do sino, que chamam à oração, convidando a elevar a mente e o coração a Deus. Como deve ter sido solene aquele último toque de sino no meio das matas virgens! Quantos corações despertou que logo cessa- riam de palpitar para sempre, almas inocentes que, como cândidas pom- bas, circundam agora o altar do eterno Deus. E já a prece da manhã subiu como incenso ao trono do Altís- simo, descortinando as portas do Paraíso, de onde coortes angélicas des- ceriam levando cândidas coroas e palmas daquelas virgens daí a pouco também mártires.
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