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O massacre de Alto Alegre 139 do consórcio humano civilizado, teria ficado oprimido, esmagado, destruído pelos conquistadores. Foi o missionário, somente o missionário, que tornou possível uma sociedade indocristã ao lado de uma sociedade europeia. Essa obra da religião tão grandiosa, tão majestosa, iniciada no dia de Páscoa de 1500, continua ainda hoje em dia, e os mártires de Alto Alegre, do dia 13 de março de 1901, foram e são presentemente as últimas vítimas da grande obra. O missionário ama, portanto não espera traições. A sua própria vocação é vocação de amor. Seguindo literalmente o ensinamento e o desejo daquele que disse “Eu vim para trazer o fogo sobre a Terra, e o que quero e de- sejo é que se acenda”, ele leva esta vela de amor divino para acender o seu fogo até os últimos confins da Terra. Assim fizeram os missionários capuchinhos no momento de lançar os fundamentos de uma nova missão em Alto Alegre. Lá havia uma grande área de trinta e mais léguas, cerca de 160 km, entre as duas cidades de Barra do Corda e Grajaú, quase que total- mente inculta, coberta de matas virgens, habitadas quase totalmente por selvagens. Era um grande campo para as lidas apostólicas, era uma grande vinha à espera de operários para a messe do Senhor. O capuchinho está pronto: deixa o mundo civilizado para esconder-se nas matas e salvar quem estava perdido. Rodeados por selvagens, começaram o seu santo apostolado, provendo não apenas à saúde das almas dos selvagens, mas também me- lhorando a sua situação material. Recebidos em Alto Alegre de forma nada cortês, principalmente pelos semisselvagens, só após muitos sacrifícios, paciência e suores, é que se fizeram afeiçoados ao coração de muitos, e tiveram a consolação de ver que muitos correspondiam, e eles já nutriam esperanças de uma abundante messe espiritual. Rodeados ainda de hordas selvagens e por alguns que já se ti- nham feito refratários à civilização e ao progresso, como aqueles que outro- ra pertenciam à colônia Dois Braços, os missionários não cuidaram de se proteger de qualquer possível e imprevisto ataque por parte dos selvagens. De vez em quando, ouviam-se vozes e rumores de possíveis pe- rigos, e de más intenções de alguns. Mas os missionários não lhes davam crédito. Se se desse crédito a todos os rumores deste gênero, ninguém mais poderia viver naquelas partes do Brasil. Eu mesmo deveria ter deixado Barra do Corda, antes mesmo que mo obrigasse a saúde. Lembrarei sempre do dia
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