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12 Pe. Bartolameo da Monza guajajaras, na Colônia São José da Providência, oito anos antes, no sertão do Maranhão, durante o que ficou conhecido como o “Mas- sacre de Alto Alegre”. Os italianos, como os brasileiros, estavam ainda comovi- dos com a tragédia deflagrada na manhã do dia 13 de março de 1901, quando centenas de índios atacaram a sede da colônia, im- plantada cinco anos antes por capuchinhos da mesma Lombardia, no lugar conhecido como Alto Alegre, entre os vales dos rios Mearim e Grajaú, a meio caminho das cidades de Grajaú e Barra do Corda, 62 quilômetros selva dentro. Em reação ao processo catequético e civilizatório a que es- tavam submetidos, que lhes exigia a mudança radical dos costumes e tradições, os guajajaras, ou tenetehara , como se autodenominam esses povos tupis, mataram os padres e freiras, os internos e serviçais do convento e, em novas ações que se estenderam pelo mês de abril, trucidaram mais de 200 cristãos, como se referiam indistintamente a todos os não índios. Foi o maior massacre promovido por índios contra civi- lizados no Brasil, desde a Cabanagem, no Pará, quando, mais de sessenta anos antes, diversas tribos juntaram-se aos cabanos e negros na tomada de Belém e na resistência ao poder imperial. Para o antropólogo Mércio Pereira Gomes, autor de um li- vro fundamental sobre os guajajaras, a revolta constituiu “a última grande rebelião indígena contra o mundo civilizado que os envolvia e compungia à condição de servos, vassalos, ou cidadãos de terceira clas- se, para serem dissolvidos na massa subserviente de pobres sem terra”. 2 Mas frei Bartolomeu da Monza, capuchinho que chega a Barra do Corda poucos anos depois desses acontecimentos (ele informa ter deixado a cidade em 1907), narra o episódio para os 2 GOMES , Mércio Pereira. O índio na história: o povo tenetenara em busca da liberdade . Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 2002. Págs. 270 e 271.

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