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O massacre de Alto Alegre  133 celebrou-se o matrimônio na igreja de Alto Alegre, e ele se uniu à selvagem que era já sua mulher segundo as leis da tribo. Muitas distintas famílias da Barra do Corda honraram esta união com sua presença, e o juiz da Barra do Corda foi especialmente a Alto Alegre para o registro civil. Algum tempo depois do matrimônio, devendo o reverendo pa- dre Rinaldo ir a São Luís, capital do Estado do Maranhão, João Caboré e Manuel Justino, que foi o segundo principal no massacre de Alto Alegre, o acompanharam. Recebido pelo governador do Estado, João Gualberto Torreão da Costa, foi objeto de grandes atenções. O governador cumulou- -o de honras e títulos, e João Caboré foi reconhecido oficialmente cacique dos selvagens. Na sua ausência, sua mulher foi ter com os missionários pedindo que afastassem de Alto Alegre uma selvagem que se dizia conviver ilicitamen- te com o Caboré. Verificada a verdade do que se dizia, os missionários acata- ram o justo pedido. Retornado o Caboré e informado do acontecido, fingiu aprovar tudo, dizendo que como cristão e católico não lhe eram permitidas mais mulheres, e agradeceu aos padres missionários terem-no afastado da- quela ocasião de pecado. Mas a sua alma já estava em poder do Demônio. Depois de três dias, ele repudia a própria consorte, abandona a colônia, e se embrenha para viver com a selvagem sua concubina. Lá, faz valer toda a sua influência para afastar da Missão os selvagens que lhe eram sujeitos. Contínuos atos de insubordinação de uns contra outros então se sucederam. Era necessário tomar medidas para restabelecer a ordem. O padre Vittore, usando do poder que as autoridades civis tinham, pode-se dizer, concedido aos missionários, ordenou a um certo Atanásio Carolino de Alveira que partisse com quatro soldados e trouxesse preso o Caboré, autor e causa de todas as desordens. O Caboré foi preso quando estava sozinho nas vizinhanças da aldeia de Canabrava, para onde se havia retirado a concubina Luísa. Se- guindo caminhos não usuais, levaram-no a Alto Alegre, onde ficou preso por quatro semanas. Lá, o padre Rinaldo, após ouvir tudo, chamou-o, e lhe falou com todo o afeto de um pai: mostrou-lhe como a sua atual conduta desonrava o seu passado; disse-lhe que nele depositara toda confiança; que desejava esquecer tudo; e que, confiando em sua boa conduta para o futu- ro, ele, como superior, perdoava tudo e o deixava em liberdade.

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