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126 Pe. Bartolameo da Monza vieram ajudar aqueles seres abandonados pelo mundo civil, que lhes devol- veu o lugar de honra na sociedade humana. Quando a América foi desco- berta e o Velho Mundo parecia atirar-se ao Novo, não se resolveu a questão de raça. As forças armadas não o povoavam, somente destruíam sua antiga população. Foi a religião que levantou o grito “somos irmãos”, deu-lhe a mão da paz e lhe disse: “Tu és homem, criado à imagem de Deus, tu és meu filho, tu foste redimido com o sangue do meu Senhor.” Tenho diante de mim um livro escrito pelo senhor Euclides da Cunha. Seu livro não é nada religioso. Em alguns trechos, fala, com zom- baria, da fé que ainda é sua. Das autoridades eclesiásticas, ainda as mais conceituadas, escreve com despeito. Em alguns lugares, descreve o missio- nário capuchinho como um vagabundo e um charlatão, um místico que poderia exercitar o seu zelo em causas melhores. Mas é na boca dos inimi- gos que a verdade se torna mais insuspeita. Eis o que escreve: “A extraordi- nária empresa [da população da América] apenas se retrata, hoje, em raros documentos, escassos demais para traçarem a sua continuidade. Os que existem, porém, são eloquentes para o caso especial que consideramos. Dizem, de modo iniludível, que enquanto o negro se agitava na azáfama do litoral, o indígena se fixava em aldeamentos que se tornariam cidades. A solicitude calculada do jesuíta e a rara abnegação dos capuchinhos e franciscanos incorporavam as tribos à nossa vida nacional; e quando no alvorecer do século XVIII os paulistas irromperam em Pambu e na Jaco- bina, deram de vistas, surpresos, nas paróquias que, ali, já centralizavam cabildas. O primeiro daqueles lugares, vinte e duas léguas a montante de Paulo Afonso [desde 1682], se incorporara à administração da metrópole. Um capuchinho dominava-o, desfazendo as dissensões tribais e imperan- do, humílimo, sobre os morubixabas mansos.” 8 Ora, o que faziam os capuchinhos em 1682 é o mesmo que con- tinuavam a fazer em 1901, em Alto Alegre. Nos seus arredores, e quase em forma de cruz, estava a linha demarcatória de quatro aldeias de selvagens: Canabrava, Jenipapo, Cruca Jé e Coco. Sabia-se que no interior havia ou- 8 Euclides da Cunha, Os sertões, c. II. O Homem, p. II. p. 101. (3ª edição). [Na citação, foram postas as palavras exatas de Euclides da Cunha. Entre os primeiros colchetes, o que foi acrescentado pelo autor deste livro; nos segundos, o que ele omitiu. ] (N. T.)

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