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124 Pe. Bartolameo da Monza que ser adivinhos graduados. Há ainda deuses errantes, que não vivem a não ser para tramar desgraças e causar infortúnios, que se escondem den- tro das frutas, da caça e dos peixes, para envenená-los. Ninguém come a carne de uma anta ou de um búfalo, e o fruto de uma arita , ou a cauda de um lambari, sem que antes chegue o adivinho. Este inicia uma espécie de exorcismo, treme, agita as mãos, escancara a boca, bufa, estrebucha, com os dentes corta a carne, a fruta, o peixe, e o deus maligno, que pode ser um homem ou mulher, volta a morar nas folhas das plantas, no cimo dos montes, e nos céus encantados, e então todos podem comer, sem nenhum perigo de ficar envenenados. Como as substâncias mais vis e abjetas são susceptíveis de uma degradação ainda maior, assim o vício é mais deturpado ainda pelo sel- vagem. Supersticioso, ladrão, cruel, dissoluto, ele parece possuir apenas apetite e paixão para o delito, e não o seu remorso. Ele arranca os cabelos ensanguentados do inimigo ainda vivo, dilacera-o, estraçalha-o, assa-o e o devora, cantando para digeri-lo, bebendo aguardente até a embriaguez, até a febre, até a morte, sem remorsos, sem aquela aversão, repugnância e náusea que as próprias bestas têm, por instinto. Entre os selvagens não se encontra um cego, aleijado, enfermo. Todos aqueles que podem ser obs- táculo à felicidade comum são exterminados. Quem nasce com defeito é logo sacrificado. Em suas guerras, matam todos aqueles que possam impe- dir os seus movimentos estratégicos: os velhos são massacrados pelos pró- prios filhos, crianças e meninos pelos próprios pais e pelas próprias mães. Quando se preparavam para destruir Alto Alegre, os selvagens imolaram todos os meninos e meninas que ainda não tivessem sete anos para que o seu choro não comovesse o coração dos combatentes. Horror!
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