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118 Pe. Bartolameo da Monza inimigo que o assalta em grande número. Ele se atém a responder aos gol- pes, a longos intervalos e com grande precisão. Seus golpes são muito bem direcionados: nenhuma bala cai em terra, todas atingem a vítima. Entanto, a algazarra aumenta cada vez mais. Os gritos e cantos de vitória, acompanhados de instrumentos musicais, ensurdecem, mas o fogo da pequena expedição, bem centrado, garante a posição. Por mais de dez quilômetros, ela foi flanqueada pelos selvagens que não conseguem fechar a via de retirada, bem dirigida e bem executada. No momento em que acontecia aquela retirada, que faz tanta honra ao tenente-coronel Tomé Vieira dos Passos e a todos os que estive- ram sob seu comando, uma segunda retirada ocorria do lado de Grajaú. O capitão Goiabeira, sabedor dos horrores de Alto Alegre, partiu com 24 homens. Encontrado por João Caboré, deu-se uma pequena escaramuça, em que os selvagens mostraram toda força. O capitão Goiabeira perdeu um homem, apenas tendo tempo de reunir os seus homens e se pôr a salvo, de volta a Grajaú. Os selvagens vitoriosos retornaram a Alto Alegre ao som de ins- trumentos de guerra, confundidos com gritos, estrondos e horríveis gri- tarias. O tumulto era horrendo e revelava todos os instintos selvagens daquelas hordas reduzidas à brutalidade de feras. Quase nus, cobertos de sangue, aspecto feroz, eles se adornaram com penas vermelho-escarlates e dançaram suas danças infernais, ao se apoderarem totalmente de Alto Ale- gre, onde por algum tempo estabeleceram segura moradia. Ali estava o seu domicílio firme, estável, intocável. Fortalecidos pelas vitórias obtidas, eles não temiam mais inimigos. Seus deuses os protegiam. Tudo devia cair sob a força de seus braços, dirigidos por seus caciques. Eram seis horas da manhã do dia 20 de março. O sol, no alto do horizonte, derramava cascatas de ouro sobre o verde brilhante das vastas florestas. O tempo era soberbo, azul o céu, somente aqui e acolá esmaltado por brancas nuvens esparsas. Os nossos valorosos combatentes despertam depois de um curto repouso. A natureza respira uma calma tépida e profunda. Eles se põem de pé. Novamente estão em marcha, mas sua marcha é silenciosa, marcha de criaturas abandonadas no meio das matas. Eles parecem temer acordar a cada passo o eco profundo da solidão. Suas fadigas, seus sofrimentos e
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