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O massacre de Alto Alegre 117 se examinasse o seu número, as suas forças, fechando cada passo à retirada, e comunicando tudo ao centro. A escuridão e as selvas tornavam fácil a execução do plano. O fato de não avistar o inimigo dava muito a que pensar ao coronel. Mais ele se aproximava de Alto Alegre, e mais profundo parecia se tornar o silêncio. Avistavam-se sinais da mais desoladora devastação e depredação, mas o devastador e predador era invisível. Casas queimadas e postas ao chão, campos destruídos, cadáveres em putrefação, mas nenhum rastro de homem. Parecia que a terra tinha engolido os selvagens. Tudo era mistério. Chegam ao lugar chamado Dúvida, já descrito por mim. Lá o coronel para, dispõe cada coisa com a maior cautela e precaução. Alto Ale- gre fica bem à frente. Ele dá as últimas ordens. A pequena armada avança, e começa o assalto. Avante! É naquela situação que os selvagens dão o primeiro sinal de vida. Das valas, dos esconderijos, das moitas, do centro de pequenos matagais, das casas destruídas e da mata, parte uma terrível fuzilaria. A mata pa- rece em chamas. Alto Alegre, em ruínas, forma o fundo de um quadro horrível. O coronel, sempre na frente, encoraja a todos. Combatem com grande valor. Ao chão, mortalmente ferido, cai o chefe de esquadra, cai um pobre pai de família de nome Brás, os selvagens engrossam, avançam ameaçadores, a fuzilaria não cessa, cada vez mais se adensa, os animais de carga são assaltados e mortos, a pólvora e a munição de reserva tornam-se espólio do inimigo. O selvagem festeja a destruição dos poucos corajosos que continuam a se defender e que apenas querem vender caro a própria vida. A situação torna-se insustentável: ou continuar a luta até o sacrifício da última vida, ou a retirada imediata, inevitável. Há pouco, eram apenas dois os mortos. Os feridos, e não gra- vemente, cinco ou seis. A perda verdadeiramente grande foi a da munição de reserva, a perda que obrigava à retirada, pois os meios de defesa cedo se haviam exaurido. O coronel dispõe seus soldados em forma de cone: com um fogo bem centrado, os que formam as duas fileiras não permitem aos selvagens que os flanqueiam que se aproximem demais, e mantêm a via de retirada aberta. Em seguida, o coronel, com pouquíssimos escolhidos, enfrenta o
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