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116 Pe. Bartolameo da Monza Para mim será sempre um mistério que pessoas nascidas e cres- cidas naqueles lugares, que um homem de intuição e olho militar como o tenente-coronel Tomé, conhecedor da natureza, da força, da índole sel- vagem, pudessem aventurar-se com um número tão pequeno a marchar contra tal inimigo. Seria audácia? Seria presunção? Seria desprezo? Seria o desejo de libertar tantas pobres inocentes, que talvez estivessem gemendo como escravas de feras humanas? Seria uma única ideia que movia aqueles corações a empresa tão audaz e desesperada, ou seriam muitas ideias a cul- minarem em uma só? Seria que o coração da cidade da Barra do Corda se achava comovido e o coração de seu povo batia como planta agitada pelo vento? Só o Senhor conhece os caminhos e o coração do homem. O coronel avançava com sua minúscula armada. Eram grandes as dificuldades a superar. À marcha expedita opunham-se aclives e morros, onde a natureza expõe pontas agudas, pedras de grande espessura amon- toadas por uma mão forte e invisível, umas sobre as outras em forma de grandes escolhos, com saliências e aberturas caprichosamente distribuídas. De noite dão a ideia de grandes cidades destruídas, e ao clarão da lua a sombra de arbustos e árvores isoladas faz imaginar uma população que lá vive e habita no silêncio da morte. Foi ao passar por aqueles pequenos morros e eminências que a pequena armada foi surpreendida, no coração da noite, por forte chuva. Privada de qualquer abrigo, obrigou-se a continuar a marcha em meio a torrentes imprevistas naquelas necrópoles fantasmagóricas. O coronel e os seus homens valorosos esperavam encontrar cedo o inimigo, mas este já havia preparado muito bem a contraofensiva. Ma- nuel Justino, com seus selvagens, defendia Alto Alegre de qualquer ata- que, assalto ou surpresa a que pudesse vir a ser organizado pelos cristãos do lado de Barra do Corda. João Caboré a defendia do lado de Grajaú. Com um núcleo de selvagens deixado para proteger Alto Alegre, formava- -se um como centro de um grande círculo, e deste centro partiam, como raios, diversas linhas de selvagens, e as linhas mantinham-se em contínua comunicação umas com as outras e com o centro. Cumpria-lhes observar qualquer movimento, e o cair de uma folha, o arrastar-se de um verme, não deviam passar despercebidos. Descoberto qualquer corpo invasor, a ordem era não perturbá-lo, mas deixá-lo avançar, ao mesmo tempo em que
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