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O massacre de Alto Alegre 111 Sempre é grato, porém, ouvir a voz de uma testemunha insus- peita. Eis como se exprimia um correspondente de O Norte , depois de uma visita a Alto Alegre: “Como são admiráveis estes religiosos! Ninguém é mais apto para essa obra de grande civilização do que eles, que, com incríveis sacrifícios, arriscando a própria vida, penetram na mais densa flo- resta para ganhar, com conselhos, com orações e com constância, aqueles selvagens para o seio da nossa sociedade cristã.” Quando então, no dia 28 de junho de 1899, chegaram a Alto Alegre, vindas de Gênova, as irmãs capuchinhas para dirigir o instituto das meninas dos selvagens e educá-las e criá-las de forma cristã, o futuro da Missão de Alto Alegre parecia assegurado. E tal era a satisfação e o conten- tamento do superior da Missão, que, em setembro de 1899, ele escrevia: “É tão grande o espírito de sacrifício destas irmãs, que é algo mais para admirar que imitar. São verdadeiros serafins para a saúde das almas. Faz três meses que aqui estão e têm feito já maravilhas de conversões. Têm cultivado tão bem aqueles selvagens... que tenho firme esperança de ver realizar a sua cristianização a passos de gigante!” As virtudes angelicais daquelas servas do Senhor foram logo co- nhecidas e apreciadas pelas mais distintas famílias do Sertão. Algumas se- nhoras começaram a visitar o lugar, e não poucas expressaram o seu desejo de confiar a elas a educação das próprias filhas. Superadas as primeiras dificuldades, abriu-se um educandário. As primeiras a serem admitidas foram as senhoritas Perpétua e Guilhermina, pertencentes à distinta família Moreira de Grajaú; Petronila e Benta Mourão, filhas do senhor Antônio Sudário d’Azevedo Mourão, que naquele tempo morava na Barra do Corda; Petronila e Úrsula Ribeiro, uni- das por parentesco às famílias distintas dos Ribeiros, Fialhos e Figueiras, de- pois Antônia, Cristina e Maria Clara. Com as filhas Perpétua e Guilhermina, também se estabeleceram em Alto Alegre as senhoras Eva e Tecla Moreira. Não se sabe ainda como, mas, na manhã de dia 17 de março, um dia depois da volta da primeira expedição, corria notícia de que al- gumas educandas viviam ainda e estavam em poder dos selvagens, e tal notícia ganhava cada vez mais força e consistência. O público de Barra do Corda, que, na noite anterior, já contemplava a própria destruição, mais uma vez grita pelo resgate. Já tudo se movimenta para preparar uma se-
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