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106 Pe. Bartolameo da Monza Mateus e Manuel, não conseguindo fazê-lo mudar de ideia, saem na frente. José mantém a palavra, e os segue a certa distância, para não atrapalhar os planos deles. Os mensageiros chegam primeiro e, pro- tegidos pela escuridão da mata, preparam um plano de entrada em Alto Alegre acomodado aos costumes dos selvagens. Logo ouvem tiros de fuzil, seguidos de gritos. Era José que caía do cavalo, mortalmente ferido. Ele se levanta, tenta defender-se dos selvagens que o cercam. Chegam João Cabo- ré e Manuel Paiva, e investem contra ele com arma branca. José grita: “Não me matem, pelo amor de Deus!” Golpes sucedem-se a golpes, e José Caro- lino já é cadáver. O clarão das fogueiras ilumina a cena selvagem. Mateus e Manuel, da mata, testemunham tudo. Eles não precisam mais confirmar o massacre, um de seus macabros episódios tinha acontecido e se comple- tado aos seus olhos. Podiam voltar. Mas, fiéis à promessa de tudo verificar, protegidos pela escuridão em que se achavam, embrenham-se na mata e, tomando caminhos diferentes, Mateus se dirige ao convento e Manuel vai direto para a Colônia. Este, de pele escura, de tal forma se havia transfigurado, que ninguém o reconheceu. Conhecendo perfeitamente a língua dos selvagens, seus costumes, seus modos, meteu-se em seus grupos como se fosse um de- les, sentou-se com eles, falou com eles. Ninguém suspeitava dele, e assim ele soube de tudo, seus planos, forças, disposições, objetivos e intenções. Mateus tentou entrar no convento, mas um obstáculo impre- visto o deteve: uma estaca com pontas de ferro afiadas. No escuro, ele se feriu, mas cortou-a e entrou. Silêncio sepulcral. Pelas paredes ainda havia sangue. Ele, que já tinha estado em Alto Alegre na qualidade de serviçal, conhecia todos os corredores: aproxima-se do quarto do padre Rinaldo, e chama por ele. Nenhuma resposta. Passa para o quarto do padre Vittore. O mesmo resultado. Entra noutro: encontra cadáveres já iniciando o es- tado de putrefação. Passa pela capela. Indescritível horripilação: cadáveres amontoados uns sobre os outros. Os assassinos tinham executado a obra. Aterrorizado, entra nas casas que serviam aos cristãos: mais cadáveres ainda fumegando ao redor de fogueiras a crepitar. Os selvagens davam vazão às últimas explosões de suas desenfreadas e cruéis paixões. Vai ao convento. Depara uma verdadeira hecatombe: o sangue cobre aquele solo que antes fora lugar de paz, habitação de anjos.
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