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104 Pe. Bartolameo da Monza o trabalho de tantos anos, e se encontra privado de tantos coirmãos a ele mais caros que os próprios irmãos de sangue, com os quais tinha dividido fadigas e esperanças, desgostos e consolações, só ele pode entender a pro- fundidade da dor, da angústia, do estado de seu coração despedaçado, e é somente aos pés do Crucificado, é apenas à vista daquele sangue divino e inocente derramado pela salvação das almas, que o missionário acha um alívio que o cura, que o anima, que o estimula a mais suores, a sacrificar-se a si mesmo, e a oferecer-se em holocausto. Por isso, ao receber a funesta notícia, os missionários da Barra do Corda passaram parte daquela noite em oração, pedindo, só a quem podia concedê-las, resignação, força, cora- gem e perseverança. Enquanto, porém, se rezava, não se deixaram de tomar as medi- das e precauções que o caso exigia. Além dos dois mensageiros, o padre Ste- fano da Sesto, superior da casa, e o padre Roberto, acompanhados por cerca de dez pessoas de caráter decidido e dispostas a enfrentar qualquer perigo, partem para Alto Alegre. Ao mesmo tempo, os barra-cordenses, superadas as primeiras emoções, e movidos pelo exemplo, gritam a uma só voz: “Res- gate! Resgate!” Não há armas, não há munições, falta um chefe que saiba comandar, mas eles não deixam de gritar: “Resgate! Resgate!” Os principais da cidade reúnem pessoas e cavalos, armam-se com espingardas de caça, fa- cões, machados e paus, e, enquanto toda a cidade está em comoção, partem. A expedição, tão desordenada e sem um elemento seguro, sem orientação clara, sem plano determinado, chega a um lugar chamado La- goa da Bandeira, sete léguas – correspondentes a 38 km – antes de Alto Alegre. Lá se detém para um necessário descanso, para combinar o que fazer e estabelecer um plano que surpreendesse os selvagens, sem causar danos à Colônia, se é que ainda existia. Enquanto assim se procedia e se dispunham as coisas para a partida, chegam Mateus e Manuel, os primei- ros enviados pelo reverendo padre Stefano, acompanhados pelo padre Ro- berto, que os havia encontrado na volta. Eles confirmam o massacre total e a destruição da Colônia, relatando um lancinante episódio de que tinham sido testemunhas: quando chegaram a Serrinha, à casa de José da Silva Carolino, vaqueiro do gado da Colônia de Alto Alegre, pediram notícias sobre o massacre, e ele, tomado de grande surpresa, respondeu que de nada sabia e que aquilo seria impossível.

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