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O massacre de Alto Alegre 103 quando está só, se acha fraco, conhece o seu nada, e pergunta a si mesmo por que Deus criou tantas maravilhas para depois afastar delas o homem inteligente, o único ser que poderia admirar as suas obras e render ao Cria- dor uma digna adoração. Naquelas planuras, que se estendem por centenas de léguas, onde o vento agita as árvores seculares das selvas e a erva dos campos, onde o cervo passa correndo e a onça rompe o seu silêncio, falta o homem que a vivifique. E quando, após longos dias de viagem, se encontra alguma tribo errante, o coração se reacende, se reanima e reconhece que aquelas florestas, aqueles campos, aqueles rios têm um fim, o fim de abri- gar um dia, sob suas sombras, em suas planícies, ao longo de seus rios, um povo feito cristão, religioso, livre e civil. É por isso que os missionários entram naquelas imensas soli- dões, e, encontrando o selvagem, saúda-o e o reconhece como irmão, e, não podendo domar o adulto, procura mudar-lhe os instintos, ao mesmo tempo que toma sob sua tutela o menino e a menina e os educa, para eles semeia a divina palavra, e, ainda que não destrua a natureza que forma o caráter próprio do índio e do habitante das selvas, a sua educação deles é tal que, mesmo respeitando o caráter que lhes é próprio, os converte em verdadeiros apóstolos de suas tribos, por terem sido educados em sentido superior, e são eles que levam a luz do Evangelho e fazem daquelas tribos idólatras tribos cristãs, adoradoras do verdadeiro Deus, crentes em Jesus Cristo Redentor e numa vida futura. Mas os nossos enviados não podiam pensar nessas coisas. Eles viajavam com a mente perturbada, no coração da noite, em profunda es- curidão e, evitando o caminho habitual, tinham que medir todos os passos, espreitar qualquer movimento, manter o ouvido atento ao mínimo ruído, evitar qualquer surpresa. Enquanto eles se aproximavam de sua meta, no convento da Barra do Corda orava-se pelos irmãos, pela Colônia toda. O pobre missio- nário que sacrifica a vida para iluminar, guiar, e levar almas a Cristo, nasci- das na infidelidade e na idolatria, e criadas na obscuridade e nos absurdos do paganismo; que por eles abandona pátria, parentes, amigos, e viaja meio mundo para viver no meio deles, exposto a todos os perigos e inclemências da zona tórrida a fim de civilizar aquelas tribos selvagens, vê destruído em um momento e pela forma mais cruel, com a mais negra ingratidão,
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