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100 Pe. Bartolameo da Monza Eis por que tinham começado com Alto Alegre. As pessoas de confiança eram os dois senhores Vicente de Araújo e Lino Gomes. Eles imediatamente se puseram a cavalo e, a rédeas soltas, por um caminho desconhecido, superaram todos os obstáculos apresenta- dos pela mata virgem, chegando a Cateté ofegantes de fadiga, sufocados pelo calor, lívidos pela desolação, tremendo de terror, sem poder falar por causa do ardor da emoção que os dominava. As pessoas de Cateté os rodeiam, reconhecem aqueles senho- res, sua atitude os surpreende, eles pedem explicações. Nenhuma palavra daqueles lábios secos. A voz não sai, o coração está fechado! Não dá para compreender! O que é? O que não é? Que fazer? Expliquem-se!... Apenas escapa um grito confuso e profundo... Alto Alegre não existe mais. Tudo está destruído! Como?! Vicente de Araújo e Lino Gomes não respondem mais. Esporam os cavalos, ganham de novo a estrada. Às nove da noite, estão em Barra do Corda. Eles são os portadores da mais lúgubre e sinistra das notícias. Toda a cidade cai em prantos. A notícia é que, na manhã do dia anterior, 13 de março, acontecera em Alto Alegre uma das mais horrí- veis carnificinas. Frades, freiras, educandas, a população toda fora morta. Todos, sem exceção, tinham sido massacrados. Bandos selvagens, sob as ordens dos famigerados caciques João Caboré e Manuel Justino, haviam cercado Alto Alegre e, em sua raiva, encarniçamento e furor, a ninguém haviam poupado. A criança inocente, a delicada donzela, o jovem e a jo- vem, objeto de esperanças futuras, pais e mães, frágeis anciãs e alquebrados anciãos, os padres capuchinhos e todas as freiras, com todas as educandas, foram vitimados. Ninguém, ninguém mais existia. A carnificina tinha sido geral, completa... A cidade inteira entra em comoção. Quem chora, quem grita, quem se desespera. Todos têm a lamentar um ente querido trucidado. Mas, de repente, faz-se um grande silêncio, um silêncio sepulcral. Às lágrimas, aos prantos, sucede uma perfeita calma. É a calma de ummar tempestuoso, quando a borrasca chega a seu último furor. É a calma do mar que depois se sobrepõe, com todas as suas forças, às ondas montanhosas e espumantes que estavam suspensas no ar, a calma que anuncia a maior das dores, a calma das ondas que depois de resistirem ao maior combate, desfazem-se umas sobre a outras, chocam-se, unem-se, e babando e rugindo anunciam

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