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484 APPENDICE II prompto, queria chamar os pedreiros, e aqui se offereceu o Reverendo Vigario, que era hum Padre Antonio Carvalhares, de elle buscar os pe– dreiros, e assistir a factura della, e que eu podia proseguir as Miss6es: eu respondi, que estava muito bom, e logo parti para missionar, porém o Reverendo Vigario nao fallou a verdade: todo o dia buscava pedreiros sem busca-los, e assim passou o primeiro anno, assim o segundo, assim o terceiro, e assim ia passando o quarto, quando Deos castigou com huma morte subita tanto o Vigario corno o Depositario; porque corno vinhao apparecendo as esmolas da Igreja, tomavao para comprar sitios fazer suas fazendas, e nao a Igreja. Me derao aviso do acontecido, nomeei outro Depositario, que logo chamou pelos pedreiros, e foi fazendo a nova Igreja, e eu proseguindo nas Miss6es até chegar no Bomfim da Jacobina, aonde acabada a Missao e Crisma morreu o Reverendo Vigario, de huma morte repentina, e mui espantosa, que horrorisado adoeci, e desci para Monte Santo, onde me tratei, e posto bom fiz Missao e Crisma; e estando para partir chega huma Ordem do Sr. Arcebispo S. Escolastica, de tirar huma residencia dos furtos de paramentos, hum calix, varios resplandores dos Santos, e sobre tudo do ornato, dadivas, e votos de ouro, que tinhao tirado de Nossa Senhora da Conceiçao; e pela residencia constou forao tres Vigarios encommendados, porém nao forao obrigados a restituir, porque tinhao sahido fora do Arcebispado. De monte Santo fui outra vez a Massacara, daqui fui chamado a Villa de Mirandella por terem alcançado hum despacho do Sr. Arcebispo de concertar a Igreja Matriz. Concertei as paredes, e fiz de novo todo o materiamento do telhado, em que gastei quatro mezes. Neste fratempo o Povo dos Taboleiros, que fica longe doze legoas, fez requerimento de fazer huma Capella no antiquissimo Cemiterio de Caeunea, e pedio de eu anda-la a fazer. O Exm. Sr. Arcebispo, despachou que sim, que eu fosse, e que fizesse esta caridade. E foi aos 8 de J unho de 1812, e fui con– duzido em huma casinha de huma negrinha, que tinha cento e tres annos; porém bem longe do dito Cemiterio. O dia seguinte vierao dous homens para me conduzir a ver o lugar; cheguei ao dito Cemitério, e nao tinha formalidade nenhuma, porque tudo era mato, e s6 se via aqui, acola alguma cova de defunto. Vi ao pé delle huma estrada larga. Per– guntei que estrada era, e me responderao que era a estrada Real, onde passavao as boiadas e comboios do Rio de S. Francisco para a Bahia. Perguntei se havia Rio, respondérao que nao, mas sim muitos olhos de agua, que nunca se seccavao, ainda com apertada secca, e que por ser huma travessia muita gente passageira se matava neste lugar: porque a motivo da agua arranchavao-se e vinhao os ladr6es, e no tempo que dormiao os matavao, roubavao e enterravao no Cemiterio. Aqui voltei para casa de negrinha bern cançado, o ordenei as duas pessoas que o Domingo diziao Missa, que espalhassem voz pelos circumvesinhos de vir, para eu publicar o que se havia de fazer, corno de facto veio muita gente a ouvir Missa, e ordenei que no Sabbado se ajuntassem no Cemiterio trazendo machados, fouces e enchadas para se apromptar o lugar da Capella. De facto no Sabbado bem cedo vierao perto a cincoenta homens, se cortou todo o mato, e se matarao muitas cobras tao grandes, que huma foi julgada pesar duas arrobas. Ordenei, que tornassem segunda feira para se fazer huma casinha de oraçao para se resar Missa, e outra casinha para eu morar, etc. Agasalhando no Cemiterio principiei logo andar com guia e com gente pelos matos para achar rnadeira boa e escolhida

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