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482 APPENDICE II desci para a Villa do Lagarto, tornei a ordenar as cousas, e subi para a Frequezia de Gerumoabo, fiz Missao, d'ahi para a Missao de Maçacara, e daqui pelos grandes rogos fui a Serra de Piquaraça no mez de Outubro de 1785. Chegando ao pé desta Serra, achei huma fazenda de gado, e huma casinha de palha, onde o Reverendo Vigario vinha de quatro em cinco annos, e nesta desobrigava sete ou oito dias a gente que vinha, que era chamada Casa de Oraçao, o que vendo fiquei confuso. Porém Deos me inspirou, olhando por aquella Serra, ser semelhante ao Calvario de J erusalem. Logo principiei a armar huma Capellinha de madeira, e fazer huma boa latada para fazer a Missao, e ao mesmo tempo mandei cortar paos de Aroeira e de Cedro para por neste Monte, que medido s6 faltao trezentas braças para huma legoa, os Passos de Nossa Senhora das Dòres, e os Passos de Nosso Senhor. E sendo vontade de Deos, logo achei neste desabrido Sertao muitos que sabiao de carpina e de pedrei– ro, que felizmente alcancei de fazer quanto Deos me ia inspirando, de modo que mandei fazer Cruzes grandes, e no fim da Missao, no dia de todos os Santos, depois das duas horas, fiz o Sermao da Procissao da Penitencia, e d'ahi as tres horas da tarde se principiou a Procissao da Penitencia, indo collocando as cruzes no modo e na distancia que orde– nao os Summos Pontifices. E quando se chegou a metade da collocaçao das Cruzes de Nosso Senhor, repentinamente se levantou de huma baixa que descia do Monte hum furacao de vento tao violento, que nao s6 apagou as lanternas que cada hum trazia, mas foi preciso botarem-se no chao, especialmente as mulheres que vinhao atraz: e assim corno todo o povo ficou espantado, gritei que nao temessem, mas que invocassem Nosso Senhor do Amparo que aqui traziao, e no mesmo instante, fazendo o sinal da Santa Cruz com a mesma Santa Imagem, socegou e prosegui– mos a Procissao, se accenderao as lanternas, se acabarao de collocar as Cruze~, e procissionalmente sempre rezando se desceu do Monte, e as oito horas da noite se chegou ao lugar da Missao, subi o pulpito, fiz o Sermao da conclusao da Procissao da Penitencia, e no fim exhortei o povo que no Dia Santo viesse visitar as Santas Cruzes, ja que vivia em tao grande desamparo das cousas espirituaes, morrendo todos sem confis– sao, e os meninos sem baptismo etc. E aqui sem pensar a nada disse, que d'aqui em diante nao chamassem mais Serra de Piquaraça, mas sim Monte Santo: o dia seguinte acabei a Santa Missao, e parti para a Villa de Mirandella: fazendo Missao principiarao a vir pessoas de la, tefe– rindo-me o que la ia succedendo. Portanto apenas eu de la parti, Deos para fazer conhecer que era obra sua e nao do Missionario, principiarao a apparecer na extensao das Cruzes arcos-iris de cinco cores, azul, amarello, branco, roxo e ver– melho. O que vendo o povo ficou admirado, e principiou a visitar as Santas Cruzes, e chegando a Cruz do Calvario, e beijando-a, logo viao que fi– cavao bons os que estavao doentes. Espalhou-se este boato, e com isto, e com arcos-iris que appareciao principarao a concorrer os doentes, que era hum continuado concurso ainda de bem longe, vindo cegos, aleijados, ainda em rede, e todos ficavao bons. Por cujo motivo da Freguezia do Tocano fui obrigado a voltar a Monte Santo. E logo cuidei em fazer cal para fechar os Passos com huma pequena Capellinha, e para se fazer a Igreja. O que tudo se fez facilmente e brevemente, porque o povo cheio de fervor, e concorrendo Deos e todo o povo, se fazia tudo

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