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478 APPENDICE II prohibiçao se servio o Sr. Arcebispo de apertar e coarctar os Missio– narios Apostolicos, que passou de hum excesso a outro, porque orde– narao em hum modo as cousas que cada vez que sahem desta Cidade a missionar, hao de fazer requerimento corno se fosse a primeira vez; ainda mais, que os mesmos Vigarios façao petiçao para ter a Mis– sao, e acabando a Missao nesta, passando para outra Ferguezia se faça o mesmo. Donde nao so fica penoso o ministerio Apostolico, mas ainda muitos se deixao de chamar o Missionario, corno V.S. tera sabido entre os tantos o caso de J equiriça, que, querendo o Povo, nao quiz o Vigario, e assim ficou sem Missao, com prejuizo das Almas, o que me parece sem razao. Porque depois de serem approvados e admittidos seus papeis, depois de pedir todas as licenças conforme ordena o sagrado Concilio de Trento, e dando o Sr. Arcebispo toda a jurisdicçao de Missionario Apostolico, parece que isto pudesse bastar. Pois hum Governador, hum Ministro até que nao he mudado, ou nao se lhe ordena em contrario, sempre lhe serve o mesmo despacho, e nem acabada huma cousa, e dada a sentença pede licença para fazer e sentenciar outra. Assim parecia-me devesse ser dos Missionarios mandados de Sua Magestade ao Brazil. Como antes disto se praticava, que missionavao nas Igrejas dos mora– dores, pregavao aos Indios mansos, e com estes se internavao nos matos a converter os Gentios. E neste modo iao formando Aldéas, dahi davam aviso ao Sr. Governador, ao Sr. Arcebispo, ao Sr. Padre Prefeito para darem aquelles provimentos necessarios para a conservaçao da Nova Al– dèa. Agora pois nao he assim: carece logo licença de Sua Magestade, do Sr. Arcebispo, do Sr. Generai; alias o Missionario nao p6de andar a mis– sionar ainda que sejao Gentios. Pois he preciso reparar, que devendo-se andar logo a converter huma Aldéa de Gentios bravos, carece de insinuar-se o Missionario pouco a pouco, acarinhando-os ora hum ora outro, dandolhes contas de vidro, que os Indios estimao muito, especialmente se sao brancas. Carece tam– bem que corno se vao convertendo e baptisando, vesti-los, isto he, os homens de camisa e ciroulas; e as mulheres de camisa e saia, o que nao p6de se fazer sem algum gastosinho de Sua Magestade; porque nem o Missionario, nem V.S. por ser hum Ministro pobre, p6de chegar a isso. Além de tudo isto se carece de sermos acompanhados de alguma pessoa armada; porque huma cousa he de ir missionando, e ir a pouco entrando entre os Gentios, que ja ficao inclinados a Fé, outra he ir de repente sem communicaçao nenhuma entre elles: pois se de todos os Indios ninguem se deve fiar delles, muito menos dos bravos. Ainda os Indios bravos teem suas armas, alem do arco, e sabem pelejar muito bem por serem providos de armas e ensinados dos Indios, que tornao a gentili– dade. Eu sei que o Missionario Fr. Luiz de Bolonha (que ja morreu, e morreu em conceito de Santo, fazendo depois de morto muitos prodigios), quando foi nas Aldèas altas, que sao por cima do Piauhy, a missionar huma vez, passando de hum !ugar a outro, ainda acompanhado de cin– coenta pessoas armadas de espingarda, pistola e catana, com hum Ca– pitao, com tudo no meio do caminho forao rechados sem elles darem hum tiro. Em quanto pois ao modo que se ha de ter em aldear os Indios bravos, deve ser, que nao ha de ser contra a vontade com força de armas e bandeiras, mas primeiro o Misisonario he que deve trabalhar por meio de Indios que saibao a sua lingoa, instruindo-os cathequisando-os, e pouco
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