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UMA CASA DE CAPUCHINHOS ITALIANOS EM LISBOA 251 natural de Roma o Padre João Francisco, como de facto o era, e nas dos Religiosos napolitanos se dissesse que pertenciam à Província Romana e eram naturais do Estado Pontifício 12 • O Reino de Nápoles pertencia à Espanha; aqueles Padres, por– tanto, eram súbditos espanhóis, qualidade que não devia transparecer nas patentes. Era-o também o Padre Boaventura, pois nascera em Alessano, mas as autoridades portuguesas não sabiam decerto que essa pequenina povoação estava na Província de Otranto, do Reino de Nápoles. Aliás, o Padre era da Província Capuchinha de Roma, a que se tinha agregado havia mais de vinte e cinco anos. Havia, portanto, grandes dificuldades para a concessão da licença almejada pelos Capuchinhos. Por isso, o Padre Boaventura não rece– bia resposta a dois memoriais, que pouco depois de chegar apresenta– ra ao Rei, nem de um terceiro que entregara à Rainha, para que esta o transmitisse às mãos do marido 13 • Dona Luísa de Gusmão, apesar destas dificuldades, continuava a venerar muito os Capuchinhos; chegou até a pedir-lhes que fundassem um Convento em Lisboa, oferecendo-se para lho edificar e provê-los sempre de tudo o que fosse necessário 14 • Contra estes desejos da Rainha, Dom João IV alegou razões que o cronista dos Capuchinhos de Roma chamou frívolas. Não no eram decerto, pois o Rei via de antemão as dificuldades que, por isso, haveriam de sobrevir e talvez até desconfiasse, se é que o não sabia, que vários destes Capuchinhos eram súbditos da Espanha. Talvez, por isso, os Religiosos respondiam a Dona Luísa que não podiam aceitar a oferta da fundação, sem terem licença dos seus Superiores; aliás, o que os interessava no momento era conseguir passagem para o Congo. Continuaram-na a esperar, apesar de tudo, reduzidos a cinco, pois Fr. Marcos de Monte dell'Olmo, adoentado, retirara-se para a Itália ]á pelo mês de Julho. Desvaneceram-se as esperanças que ainda ti– vessem, quando se soube em Lisboa, a 20 de Dezembro de 1641, que no anterior 25 de Agosto os Holandeses se tinham apoderado de Luanda 15 • Como por este porto se fazia a comunicação de Lisboa com 12 Veja-se a cit. carta de 1 de Outubro de 1641, em MMA 8, 538. 13 Veja-se a mesma carta, em MMA 8, 537. 14 Nas declarações feitas na Sicília, o ·Padre Boaventura disse que a Rainha le ma-– nifesto deseos de que fundassen alli, pero el Duque [Dom João IV] no dia lugar a la execuzion (Simancas, Estado, maço 3485, doe. 122, f.2r-v e MMA 8, 577). O cronista da Província Romana dos Capuchinhos refere com mais pormenores esta oferta da Rainha e a oposição que lhe fez Dom João IV (ibid., 567-568). 15 Annaes de Portugal restituído a Reys naturais, ms. conservado na Bib. Nacional de Lisboa, Fundo geral, cód. 6818, f.187v e Dom Luis de MENESES conde da Ericeyra, Historia de Portugal restaurado I, Lisboa 1679, 298.
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