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248 FRANCISCO LEITE DE FARIA portuguesa, com demoras às vezes descontertantes, lhes concedesse· licença, com passagem gratúita, de irem para o Ultramar. Os italianos, pertencentes a várias Províncias, tinham só a apoiá– -los a Santa Sé, que não reconhecia a independência de Portugal, e vários deles eram súbditos da Espanha, com a qual havia então guerra. Não admira, portanto, que as suas tentativas para obterem Casa em Lisboa tenham fracassado. Os franceses, que eram apenas da Província da Bretanha e esta– vam apoiados por Luís XIV, poderoso aliado de Portugal na guerra contra a Espanha, ou ao menos aliado que nessa luta se não queria perder, fàcilmente obtiveram o que pretendiam. Historiemos estes factos no que se refere aos Capuchinhos ita– lianos, deixando para outro estudo as tentativas dos Capuchinhos franceses. Antes de entrarmos propriamente no assunto, lembremos que em 1619 já tinha estado na Capital portuguesa um primeiro grupo de Ca-· puchinhos; eram o Santo Fr. Lourenço de Brindes, antigo Geral da Ordem, e os seus companheiros, o Padre Jerónimo de Casalnuovo, da Província de Nápoles, e o Irmão Fr. João Maria de Monforte, da de Veneza. Encontrava-se o Santo em Lisboa para tratar com Filipe III, que então visitava Portugal por primeira e última vez, assuntos referentes ao governo de Nápoles. Tinha-se hospedado com os companheiros na casa, onde habitava Don Pedro de Toledo, magnate espanhol que nesta visita acompanhava o seu Rei; aquela casa estava perto da Igreja de S. Paulo e defronte da Cruz de Cataquefarás, que desapareceu durante o terremoto. Aí S. Lourenço de Brindes morreu na tarde de 22 de Julho de 1619 e, dias depois, os seus companheiros abandonaram Portugal, após terem estado em Almada, em Belém e em Lisboa 6 desde o anterior 25 de Maio. As preocupações do assunto, que iam tratar com o Rei espanhol, e os sobressaltos, causados pela doença e morte do Santo, não lhes e Nos estudos Lisboa e S. Lourenço de Brindes, Lisboa 1956, 9 e A Morte de S. Laurenço de Brindes e as Homenagens que Lisboa lhe prestou, Roma 1959, 8-10, dissemos que decerto o Santo, logo que chegou a Almada em 25 de Maio, se tinha hospedado na casa que Don Pedro de Toledo possuía em Lisboa, junto à Cruz de Cataquefarás. Sem termos lido os processos para a canonização do Santo pensámos assim, porque Almada e Belém distam de Lisboa apenas uma breve meia hora de caminho, porque naquelas duas povoaçõezinhas havia então grande dificuldade de obter alojamento para o numeroso séquito de Filipe III e porque julgávamos que a casa de Cataquefarás era de Don Pedro de Toledo. Arturo Maria da Carmignano di Brenta (S. Lorenzo da Brindisi Dottore della Chiesa Universale [1559-1619] III, Venezia [1962], 661 nota 69) mostrou que o Santo esteve pelo menos hospedado em Belém, de 5 a 29 de Junho, na casa que aí habitava Don Pedro de Toledo; dizem-no três testemunhas dos processos. Decerto o mesmo acontecera em Almada, de 25 de Maio a 5 de· Junho. Muito agradecemos ao erudito autor da monumental vida de S. Lourenço de Brindes– este esclarecimento sobre a estadia do Santo em Lisboa.
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