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268 FRANCISCO LEITE DE FARIA Não sabemos onde ficava a ermida de Nossa Senhora da Piedade, que hoje já não existe. Incrustada nas muralhas da Ribeira, na parte oriental da cidade, perto portanto da actual alfândega, havia uma er– mida com aquela invocação; assim no-lo comunicou o falecido escri– tor olisiponense Matos de Sequeira, mas duvidamos que Dom João IV se referisse a essa ermida, pois não se encontrava fora da cidade. No entanto, as dificuldades iam em aumento. Segundo o Padre Zacarias, em carta de 21 de Abril, provinham elas da continuada re– cusa que a Santa Sé opunha ao pedido da confirmação dos Bispos 67 • Este motivo era decerto valável, pois o preenchimento das sedes va– cantes continuava a ser a principal exigência de Portugal para norma– lizar as relações com Roma. A 27 de Abril o Vice-Colector Battaglini alegou razão mais ponderosa : um barco vindo da Baía trouxera o boato de que, entre os Capuchinhos embarcados em San Lúcar e já chegados ao Congo, iam disfarçados de frades dois soldados espanhóis e um Bispo. O Vice-Colector julgava isso completamente falso, e tinha razão, mas o boato corria em Lisboa e dizia-se que era preciso man– dar ordens a Angola, para que o Padre Boaventura de Taggia e os seus companheiros fossem imediatamente remetidos para Portugal 68 • Pouco depois foi apresentado a Dom João IV um arrazoado do Irmão Jesuíta Gonçalo João, que fora preso em Angola pelos Holan– deses no ano anterior; nesse arrazoado dizia-se que os Capuchinhos, idos para o Congo, teriam feito com que aí se seguisse a voz de Caste– la';g. A afirmação era vaga, mas vinha em certo modo confirmar o boato da Baía e bastou para fortalecer, aos que as tinham, as suspei– tas de serem favoráveis à Espanha os Capuchinhos, que com ânsias de seguirem para o Ultramar português passavam por Lisboa. Por isso, e também decerto por saber que o Padre Zacarias era súbdito espanhoFº, Dom João IV mandou comunicar aos Religiosos albergados na ermida da Piedade que se retirassem para a Itália, em um barco prestes então a seguir para Génova; assim o disse para n 7 Esta carta encontra-se no referido Arq. dos Capuchinhos de Génova. ns Arq. da Propaganda, SRCG 110, f.166r. oo O arrazoado do Irmão Jesuíta, com a ordem de Dom João IV para o examinarem no Conselho Ultramarino, dada em 25 de Junho de 1646, encontra-se no Arq. Histórico Ultra– marino, Papéis avulsos, Angola, 25 de Junho de 1646, e foi publicado em MMA 9, 424-425. Aqui chama-se Padre ao Irmão Jesuíta, erro em que também caiu o Conselho Ultramarino, ao examinar este arrazoado em 5 de Julho (ibid., 428). 70 O Padre Boaventura de Taggia, na carta de 16 de Novembro de 1646, que citaremos na nota 81, escreveu: « niuno sij Vassalo dei Ré di Castella, di che só certo hauer scritto quanto auiso due volte in Roma, et pure hanno inuiato i1 P. Zaccaria da finale per Pre– fetto della missione dell'Indie cõ esser vassalo di Spagna, che una cosa cõ l'altra fu causa esser rimandati cõ tanto rigore irnprouisamente ».

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