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260 FRANCISCO LEITE DE FARIA devia-se mandar às autoridades do Brasil que enviassem aos Portu– gueses de Angola os socorros, há tempos ordenados, os quais desvia– riam a intenção que levava o barco espanhol. No dia seguinte Dom João IV respondeu que assim o mandava dispor 41 • A notícia recebida pelo Rei não era absolutamente exacta: os Capuchinhos, que saíram de San Lúcar em 4 de Fevereiro, eram doze, não catorze, e nem todos eram espanhóis, pois havia entre eles um francês, filiado na Província da Toscana, e seis italianos, dos quais cinco eram súbditos da Espanha 42 • Pràticamente, o facto permanecia o mesmo e era bastante grave para alarmar os Portugueses. Não ad– mira, portanto, que essa notícia viesse dar mais força aos que se opunham à licença pretendida pelo Padre Boaventura de Taggia. As dificuldades deste Padre veio ajuntar-se a ordem, que recebeu ou ia receber dos seus Superiores de Roma, para abandonar a ermida de Santo Amaro e retirar-se à Província Capuchinha mais próxima, isto é, a Andaluzia, porque a Santa Sé não estava disposta a aprovar o Bispo nomeado para o Congo. O Padre Boaventura foi logo ter com o Cônsul da França, que lhe disse para se não ir embora, de nenhuma maneira, pois para a Espanha, por causa da guerra em toda a extensão da fronteira, não poderia ir e, se fosse para a França ou para a Itália, isso seria deixar o campo livre e dar a vitória aos que se lhe opunham. Além disso, prometeu recomendá-lo ao Rei da França, a fim de que o novo Embaixador trouxesse instruções para o proteger. O Capuchinho foi também falar com o Secretário Vieira da Silva que lhe afiançou, com juramento, que poderia seguir para Angola, apesar de todas as dificuldades, se o Papa confirmasse o Bispo no– meado. O Padre Boaventura comunicou tudo isto, em carta de 3 de Abril, ao Secretário da Propaganda Fide 43 • Dom João IV, portanto, continuava com intenções de deixar seguir os Capuchinhos para An– gola, se a Santa Sé confirmasse o Bispo, e parece que até mesmo se o não fizesse. A 27 de Abril o Padre Boaventura foi falar-lhe e conseguiu como– vê-lo, o que talvez não fosse difícil, a julgar pelo relato que dele nos 41 Esta consulta está em Lisboa, Arq. Histórico Ultramarino, Papéis avulsos, Angola, 21 de Fevereiro de 1645, e foi publicada em MMA 9, 228-229. 42 Os italianos súbditos da Espanha eram os Padres Boaventura de Alessano, Januário de Nola, Boaventura de Sorrento, Boaventura de Nuoro e Miguel de Sessa, pertencendo estes dois últimos, respectivamente, à Província de Castela e à de Aragão. Os espanhóis eram os Padres Ângelo de Valência, João de Santiago e José de Antcquera com os Irmãos Fr. Francisco de Pamplona e Fr. Jerónimo de La Puebla, o francês era Fr. Ângelo da Lorena, da Província da Toscana, e o italiano, não súbdito da Espanha, o Padre João Francisco de Roma. 43 Esta carta está no Arq. da Propaganda, SRCG 143, f.221r-v e 232r-v e foi publicada– em MMA 9, 235-236.

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