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UMA CASA DE CAPUCHINHOS ITALIANOS EM LISBOA 255 Esta atitude firme do Conde da Vidigueira era compreensível. A Santa Sé recusava-se a reconhecer Dom João IV como Rei de Por– tugal. O Bispo de Lamego, depois de ter estado mais de um ano em Roma, não conseguira ser recebido como Embaixador pelo Papa e fora até alvo de um estrondoso atentado, de que saiu ileso, ainda que houve mortos e feridos. E_m Portugal já estavam vacantes dezassete dioceses 25 , para as quais a Santa Sé se negava a confirmar Bispo,. para não reconhecer o novo Rei português que o apresentava. A estes motivos de ressentimento ajuntava-se o facto de estes missionários, enviados para Portugal pela Santa Sé, não levarem uma palavra se– quer para Dom João IV. Verdade é que também a não levavam para o Vice-Colector, Je– rónimo Battaglini. Este, em carta de 24 de Julho de 1644 para o Secretário da Propaganda Fide, dizia terem chegado a Lisboa, quinze dias antes, os quatro Capuchinhos que, apesar de lhe não trazerem aviso ou recomendação da Santa Sé, recolhera em sua casa, como· fizera com os anteriores; ajuntava que os sustentaria, como lho per– mitissem as suas fracas posses, e os ajudaria no que pretendiam, ainda que com poucas esperanças de êxito, pois Luanda continuava em poder dos Holandeses 26 • As poucas esperanças do Vice-Colector depressa se tornaram gran– des, pois a 12 de Agosto, escrevendo novamente ao Secretário da Pro– paganda Fide, pôde já dizer que tanto a Rainha, como até o Rei, tinham recebido bem os Capuchinhos; Dona Luísa de Gusmão tomara a seu cargo as despesas da alimentação destes Religiosos e Dom João IV, falando com o próprio Battaglini, mostrara-se inclinado a conceder-lhes passagem para Angola. Ajuntava o Vice-Colector que· conviria dar-lhes licença de receber noviços no Congo, pois deveriam ao princípio ter dificuldades de enviar para lá mais missionários; depois seria bom arranjar-lhes um Hospício em Lisboa, para lhes facilitar a correspondência do Congo para Roma 27 • A pretensão destes Capuchinhos parecia, portanto, que ia ser atendida e, para isso, podiam-se ver diversos motivos. Nenhum destes Religiosos era súbdito da Espanha, o poderoso e aliado Rei da França 2r. Eram as dioceses de Braga, Évora, Guarda, Lamego, Leiria, Lisboa, Miranda, Porta– legre, Porto e Viseu no Continente, Angra nas Açores, Congo e S. Tomé na Africa, Cran-· ganor, Macau, Malaca e Meliapor no Oriente. Só oito dioceses estavam providas de Bispo: Algarve, Coimbra e Elvas no Continente, Funchal na Madeira, Cabo Verde na Africa, Baía no· Brasil, Cochim e Goa no Oriente, não contando a de Ceuta, que não seguiu a Metrópole· no movimento da Restauração. 26 Esta carta está no Arq. da Propaganda, SRCG 123, f.49r e foi publicada em MMA 9, 148-149. 27 Esta carta está no Arq. da Propaganda, SRCG 123, f.SOr e foi publicada em MMA 9, 150-151.

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