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252 FRANCISCO LEITE DE FARIA o Congo, a passagem para esta região ficava pràticamente impossibili– tada. Os Capuchinhos, contudo, ainda ficaram várias semanas na Capital portuguesa, talvez à espera de barco para a Itália. Finalmente, a 5 de Fevereiro de 1642, o Vice-Colector Battaglini participou ao Cardial Prefeito da Propaganda Fide que o Padre Boa– ventura, em vista do que acontecera, tinha resolvido voltar para Roma 16 • Em dia, que não podemos precisar, tomou esse Padre um navio 17 , que se dirigia para Veneza, e quando passava ao largo de Messina, meteu-se com os quatro companheiros numa barca que os conduziu a terra. A 14 de Março já tinha desembarcado e logo a seguir, instado pelas autoridades espanholas da Sicília, prestou sobre a situação por– tuguesa declarações que, embora fossem verdadeiras, muito pre– judicariam os Capuchinhos, se os governantes de Lisboa as chegassem a conhecer 18 • A permanência destes cinco missionários em Portugal, durante nove meses, não lhes pôde dar azo para tentarem o estabelecimento nesse país; ainda que o intentassem, o que atrás fica dito basta para provar que teriam fracassado. Antes de referirmos a passagem de outro grupo de Capuchinhos italianos por Lisboa, recordemos que dos seis Religiosos que consti– tuíam este primeiro grupo, só três conseguiriam chegar ao Congo, a saber, os Padres Boaventura 19 , Januário e João Francisco. Os dois primeiros lá morreriam com certa fama de santidade e, para a cano- 16 Carta conservada no Arq. da Propaganda, SRCG 141, f.184r e publicada em MMA 8, 560-561. 17 Lázaro de Aspurz (Redín Soldado y Misionero, Madrid 1951, 121) supõe que fizeram a viagem por terra, pois afirma que em Fevereiro de 1642 se hospedaram no seu Convento de Saragoça seis Capuchinhos italianos que, sob a direcção do Padre Boaventura de Alessano, voltavam descoroçoados de Lisboa, onde não tinham obtido passagem para o Congo. Esta afirmação não está certa. O cronista da Província Romana diz que os cinco Capuchinhos, depois de se despedirem da Rainha, date le vele al vento se ne tornorno in Italia (Annali della Província Romana I, 623 e MMA 8, 569). O Almirante de Castela, em 16 de Abril de 1642, escreveu ao Rei da Espanha que un Vajel, que venia de Portugal y passaua a Venecia, cerca de Meçina, sin tomar Puerto, hecho en tierra cinco Padres Capuchinos (Simancas, Estado, maço 3485, doe. 120 e MMA 8, 574). O Padre Boaventura, em carta escrita de Messi– na em 14 de Março de 1642 ao Secretário da Propaganda Fide, dá a entender que apenas cinco Capuchinhos voltavam de Lisboa (Arq. da Propaganda, SRCG 35, f.174r e MMA 8, 572-573). Os Capuchinhos eram, portanto, cinco e embarcaram de Lisboa para a Itália. Aliás, a guerra, que ao longo de toda a fronteira Portugal mantinha contra a Espanha, não permitiria que estes Religiosos fizessem a viagem por terra. 1s Estas declarações foram enviadas de Palermo ao Rei da Espanha pelo Almirante de Castela, com carta de 16 de Abril de 1642, conservam-se em Simancas, Estado, maço 3485, doe. 122 e foram publicadas em MMA 8, 576-581. 19 O Padre Boaventura de Alessano, que tinha sido missionário no Próximo Oriente, foi para o Congo em 1645 como chefe do grupo que embarcou em San Lúcar, na Espanha. Tinha o cargo de Prefeito, ou Superior, e conservou-o até que santamente morreu em S. Salvador, a 2 de Abril de 1651. Veja-se J. CUVELIER, Le Pere Bonaventure d'Alessano Capucin, Missionnaire au Congo (1645-1651), em Rev.Clergé Afric. 7(1952) 338-356.

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