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selvagem quase inocente e cheio de bondade, vindo da selva à corte de Paris para receber o Baptismo. Estranha, contudo, que o Padre Cláudio não tenha sido suficientemente franco nem tenha dito tudo o que sabia sobre o índio Itapucu e, por isso, perpassa-nos a suspeita de que o relato de Mocquet não seja verdadeiro. Finalmente chegou o d'a do solene Baptismo dos três índios Tupinambás. Foi a 24 de Junho, festa de S. João Baptista, e a Igreja dos Capuchinhos da Rua Saint-Honoré adornou-se esplendorosa– mente com ricas colgaduras vindas do Palácio do Louvre. O templo, às quatro horas da tarde, estava cheio de pessoas da maior distin– ção, quando a Rainha, seguida pelo pequeno Luís XIII, compareceu e avançou para o altar-mor. O Cardial Pedro de Gondi, Bispo de Paris e venerável ancião com ma:s de oitenta anos, o qual bondosa– mente quis administrar este sacramento, endossou então as vestes pontificais e os neófitos apresentaram-se, ricamente vestidos de tafetá branco e acompanhados por Capuchinhos. Seguiu-se o inter– rogatór;os dos índios, fazendo de intérprete o Padre Cláudio, e administrou-se-lhes depois o Baptismo, sendo padrinhos a Rainha Regente Mar:a de Médicis e o Rei Luís XIII. A todos se impôs igualmente o nome de Luís, em honra do seu excelso padrinho. Acabado o baptismo, organizou-se uma procissão, de cruz alçada e com os frades a cantarem as ladainhas, até ao vizi– nho Mosteiro de Santa Clara, a fim de mostrar a essas freiras de r:gorosa clausura os índios que de outro modo não poderiam ver. Oito dias depois o Cardial de Gondi delegou o Bispo de Auxerre para lhes administrar o Crisma, o que igualmente se fez na Igreja dos Capuchinhos, e para distinguir os índios, a cada um deles se ajuntou respectivamente o nome de Maria, Henrique e S. João, ficando com as denominações de Luís Maria, Luís Henri– que e Luís de S. João. Esta cereminónia, além de ser descrita pelo Padre Cláudio ( 76 ), foi-o também pelo M ercvrc françoís de 16l 3 ( 77 ) e nesse mesmo ( 76 ) Ibidem, pp. 278-284. ( 77 ) Só vimos a segunda edição do Mercvre françois, III, Paris, 1617, onde nas pp. 6-8 e 164-185, que por gralha está numerada 175, se fala da missão dos Capuchinhos ao Maranhão, da vinda de Rasilly e das festas que se fizeram aos 1ndios em Paris. Cita-se ai a obra do Padre Cláudio, editada em 1614, e por isso, se o texto da raríssima primeira edição é igual ao da segunda, não pôde ser publicado em 1613. A licença para a primeira impressão é de 10 de Junho de 1615. 118 [36}

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