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França, mas puseram-se à moda da sua terra para serem pintados pelo artista, que não sabemos quem foi ( 72 ). Malherbe, em carta de 3 de Maio de 1613, escreveu a Peiresc que um dos Tupinambás morrera dois dias antes com oitenta anos ( 73 ); a informação não é muito exacta, pois não concorda com a do Padre Cláudio, testemunha muito mais fidedigna do que o poeta, mas o facto indica que a presença dos Índios do Maranhão em Paris era assunto de muitas conver(:las. João Mocquet, que tempos atrás estivera no Maranhão, tendo ouvido falar dos índios hospedados no Convento da Rua Saint– -Honoré, quis ir visitá-los e assim o fez certa manhã. Conta-nos ele que, ao entrar no quarto dos Tupinambás, reconheceu um deles, que também o conheceu e afectuosamente lhe caiu nos braços. Era lapoco, sobrinho do senhor da terra de lapoco, no Pará, a mais de cento e vinte léguas do Maranhão. Tinha ele sido refém de Mocquet, que em 1604 o trouxe para a França; quando este índio voltava para o Brasil, foi preso pelos Ingleses e da Inglaterra passou nova– mente à França. Dirigiu-se então ao Poitou, onde já tinha estado, para visitar a Senhora de La Ravard:ere, que o tomou ao seu serviço, mas tendo sido repreendido por ela, fugiu para o Hâvre e depois para Paris; Mocquet encontrou-o, levou-o para a sua casa, tratou-o o melhor que pôde e apresentou-o ao Rei, que lhe mandou dar algum dinheiro. Depois o índio voltou para o Hâvre, onde a Senhora de La Ravardiere o tinha feito procurar, e Mocquet não soube mais dele (7~). Vê-se que reembarcou para o Maranhão e de lá veio com Rasilly, para prestar homenagem ao Reis da França. Mocquet tem sido considerado um pouco fantasista no relato das suas aventuras.mas bem pode ser que este caso seja verdadeiro. Cláudio de Abbeville diz que um dos índios, chamado ltapucu, ltaquiçã e de dez outras maneiras diferentes, era filho do chefe de Caietê, no Pará, e devia perceber o francês, pois ripostou imedia– tamente a uma advertência que lhe fizeram no Louvre ( 7 "). O facto de o Capuchinho se não referir às aventuras desse índ:o na França pode-se explicar pelo desejo de o apresentar aos leitores como um ( 72 ) Ibidem, entre as pp. 160-161,192-193 e 254-255. (7 8 ) Ver ao fim o documento n.º III. b. ( 74 ) JEAN MOCQUET, Voyages en Afríqve, Asie,lndes Orientales & Occidentales, Paris, 1617, p. 93. ( 75 ) C. DE ABBEVILLE, ob. cit., pp. 275-276. [35} 117

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