BCCCAP00000000000000000000536

religiosas, das quais os Capuchinhos estiveram excluídos até à segunda metade do século XVII. Não está certo que a proibição de missionários estrangeiros no Brasil só fosse decretada em 1620, como parece ao Padre Nembro. É verdade que a 22 de Setembro desse ano Filipe III escreveu ao governo de Portugal a mandar que se observasse nas mais Con– quistas o que já se cumpria na Índia, a saber, que se não deixassem ir para lá missionários estrangeiros sem licença especial e sem os seus nomes e naturalidades serem devidamente anotados ( 38 ). Não sabemos ao certo o que motivou esta ordem régia e, ainda que do seu conteúdo pareça deduzir-se que antes dela missionários estran– geiros iam sem empenes para a África e para o Brasil, isso não é verdade. Hajam em vista as oposições que se fizeram à ida de Car– melitas espanhóis para o Congo em 1608, assim como as que se levantaram contra os Capuchinhos igualmente espanhóis, que de 1618 a 1622 se empenharam em seguir também para o Congo. Por– tugal estava então atrelado à Espanha, os Capuchinhos e Carme– litas que queriam ir para o Congo eram espanhóis, Filipe III e a Santa Sé apoiavam-nos, mas apesar de tudo isso, encontraram opo– sição tão grande que não puderam partir, ainda que já estavam em Lisboa, prestes a embarcar, e foram substituídos por Dominicanos e Jesuítas portugueses. Supomos até que aquela carta régia de 1620, inspirada a Filipe III pelo Conselho de Portugal em Madrid, tinha a f:nalidade de pôr ponto final às pretensões dos Capuchinhos espanhóis ( 33 ). Julgamos, portanto, que nem os supostos factos apresentados pelo Padre Nembro, nem as suas considerações conseguem abalar a realidade histórica de que os primeiros Capuchinhos a porem pé em terras do Brasil foram os que em 1612 desembarcaram na Ilha do Maranhão. ( 33 ) Torre do Tombo, Desembargo do Paço, liv. 6, f. 328. Este trecho da carta régia de 22 de Setembro de 1620 foi publicada por JOSÉ JUSTINO DE ANDRADE E SILVA, Collecçiío chronológica da Legislação portugueza, 1620-1627, Lisboa, 1855, p. 29; VISCONDE DE PAIVA MANSO, Historia do Congo, Lisboa, 1877, p, 169 e ANTóNIO BRASIO, Monumenta missionária africana, VI. Lisboa, 1955, p. 518. ( 39 ) Veja-se o que escrevemos em A primeira tentativa para os Capuchi– nhos missionarem no Congo, Braga, 1956, pp, 20-21. /19] 101

RkJQdWJsaXNoZXIy NDA3MTIz