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realização de um segundo grande sonho seu: o início, em Espanha, de um projecto bíblico análogo ao iniciado por ele em Portugal, onde residia e trabalhava há bastantes anos. Recordo um memorável encontro, a sós com ele, marcado na cidade de Badajoz, onde toquei com a mão a alma do frei Inácio, transformada em auténtica torrente de iniciativas, imaginando-se com absoluta naturalidade algo assim como "uma Europa capu– chinha sem fronteiras" ao setviço da Palavra de Deus... Então compreendi que não lhe cabiam no corpo, tão pequeno e débil, a sua fé, o seu coração e o seu carisma de profeta apaixonado da Bíblia; e que devíamos abençoar e apoiar a sua incontida e contagiante ousadia, quando suplicava como só ele sabia fazer, à semelhança do ··amigo importuno" da parábola do Evangelho, que se lhe abrissem as portas. Porque não eram apenas os projectos que ele apresentava, era também - e sobretudo - a vida pessoal que os antecedia. Aci– ma de tudo, era um "homem bom", no bom sentido da palavra. A convicção e sinceridade, que transpareciam nos seus olhos e no seu amável sorriso, o coração desarmado e desarmador com que encaixava, imperturbável, as dificuldades e incompreensões, a ''santa impertinência" com que levava adiante as suas propostas e as suas inte,venções perante toda a classe de públicos, a tena– cidade infatigável com que suportava as mais diversas tensões e inesperadas surpresas ... promovendo o amor, a devoção e o estudo da Bíblia. tudo - particularmente quando selado pela cruz "em nome de Jesus" - abrilhantava e aumentava o magnetismo da sua pessoa. Mas, além de "homem bom", o frei Inácio, como autêntico filho de São Francisco, foi um religioso exemplarmente "irmão e menor". A sobriedade e austeridade da sua vida, a simplicidade do seu estilo e porte, a humildade que acompanhava todas as suas actuações e, de modo especial, a disponibilidade e entrega, discretas e delicadas, com que estava próximo de tudo e de to– dos, fizeram dele quase uma figura das "florinhas franciscanas" edificante e humanamente cativante. Foi franciscano na sua compostura, e mais ainda, se possí– vel, no conteúdo específico que encheu por completo os melho– res anos da su actividade apostólica, de acordo com o objectivo principal da Regra e vida do irmão menor, tal como o pensou e sonhou São Francisco: encarnando com o próprio comportamento e pregando "a vida e o Evangelho de Jesus Cristo"; e como o sublinham as Constituições dos Irmãos Menores Capuchinhos: "O apostolado principal do irmão menor é viver, no mundo, a vida evangélica, na verdade, na simplicidade e na alegria." (nº 145,2). "Seguindo o exemplo de São Francisco e a tradição da nossa Ordem, os irmãos preguem a Palavra do Senhor. .. " (nº 148,2). • 15 •
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