BCCCAP00000000000000000000531

160 ANTÓNIO MONTEIRO que teve o texto conciliar 1 º 29 • Da visão do valor moral destas condições de que se reveste a existência concreta do homem, resulta claro que uma grande parte das normas de moralidade, sobretudo quando são muito concretas, mudam por vezes e têm até que mudar. Não pode assim existir uma moral propriamente imutável e única. De resto, para Cristo até o próprio Decálogo não era imutável 1° 30 • É necessário, por isso,esquecer uma moral que deveria ser sempre igual, com base numa natureza abstracta, fixa e imutável. Tal natureza, na realidade, não existe, não podendo por isso dar origem a normas morais. Sem o «Sitz im Leben», não pode dar-se qualquer apreciamento autenticamente ético de um comportamento determinado. É a consequência do valor da história, como centro e base da acção de Deus, último fundamento de toda a norma moral 1031 • Nesse sentido, muito justamente, Paulo VI, dirigindo-se aos Profes– sores e alunos da Universidade Gregoriana de Roma, dizia-lhes que o estudo da teologia não consiste propriamente em captar uma ordem de essências, mas uma «história sagrada>> 1 º 32 . É daqui que parte a diferença fundamental entre a Igreja e a sinagoga. A sinagoga, encurralada na letra, olhava apenas para os Livros Sagrados, inter– pretados, muitas vezes, de maneira ridícula e mesquinha. A Igreja, tendo sempre presentes os Livros Sagrados, deve estar igualmente atenta à história, aos sinais dos tempos, a cada uma destas situações concretas que acompanham a vida dos hom.ens e fazem parte da sua autêntica identificação 1033 . Por isso é que a Igreja tem o dever de ir-se actualizando, ao longo dos séculos. Foi isso precisamente que ela pretendeu com a Constituição Pastoral 1° 34 . Nem sequer se trata de uma perspectiva descoberta apenas agora pelo Concílio. Já Pio XII admitia que, até a nível do direito natural, podem aparecer postulados novos e diferentes 1 º 35 • Foi esta visão que, muito acertadamente, captou e ensinou o Papa João Paulo II 1 º 29 Ibidem. 1030 J. GRÜNDEL, o. e., p. 87. 1031 A. HORTELANO, art. cit., p. 273. 1 º 32 PAULUS VI, Allocutio ad modera/ores, doctores ai1ditoresq11e Gregorianae st11diort11t1 Universitatis, AAS 64 (1972) 365: «Vi e una scienza teologica e vi sono altresi sistemi teologici Ma scienza e sistemi hanno il compito di captare una storia sacra, non un ordine de esscnze». 1033 B. HAERING, Vistas e perspectivas 1w11as q11e a Co11stit11ição abre para o f11t11ro, em A Igreja, p. 625. 1034 L. VEREECKE, •Aggiomamento»: Tâc/1e l,istoriq11e de L' Ég/ise, em Église, p. 58. 1 º 35 Pws XII Allowtio dirigwtibus ac sociis Sodalitatis Italicae st11diis provehmdis ad 1111i– versas nationes reco11cilia11das, AAS 47 (1955) 770: «Lo studio della storia e dello svillupo del diritto, fin dai tempi remeti, insegna che, da un lato, wia trasformazione delle condizioni

RkJQdWJsaXNoZXIy NDA3MTIz